Preços caem pela 1ª vez em 9 meses, e IPCA tem maior queda para junho desde 2017

Alta acumulada em 12 meses desacelera a 3,16%, menor nível desde setembro de 2020, diz IBGE

Leonardo Vieceli RIO DE JANEIRO

Com a redução dos preços de automóveis, alimentos e combustíveis, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) teve deflação (queda) de 0,08% em junho.

É a primeira vez que o índice oficial de inflação fica negativo em nove meses, informou nesta terça-feira (11) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A última deflação havia ocorrido em setembro de 2022 (-0,29%). Na ocasião, a economia vivia os reflexos dos cortes de tributos promovidos pelo governo Jair Bolsonaro (PL) às vésperas das eleições.

Considerando somente os meses de junho, a queda é a primeira e a maior desde 2017. À época, a baixa havia sido de 0,23%.

Consumidores fazem compras em atacarejo na capital paulista – Rubens Cavallari – 12.abr.2022/Folhapress

A variação negativa ficou em nível próximo da mediana das projeções do mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam recuo de 0,10%, após o avanço de 0,23% registrado em maio.

Com o novo resultado, a alta acumulada pelo IPCA em 12 meses desacelerou para 3,16% até junho, o menor nível desde setembro de 2020 (3,14%). O avanço era de 3,94% na divulgação anterior.

CARROS, COMIDA E GASOLINA RECUAM

Dos 9 grupos de produtos e serviços do IPCA, 4 mostraram queda em junho. Os destaques foram os recuos de alimentação e bebidas (-0,66%) e transportes (-0,41%).

Os dois segmentos contribuíram com -0,14 ponto percentual e -0,08 ponto percentual, respectivamente, para o índice do mês.

A queda de alimentação e bebidas deve-se, principalmente, ao recuo dos preços da alimentação no domicílio (-1,07%), que haviam registrado estabilidade em maio.

Destacam-se as reduções do óleo de soja (-8,96%), das frutas (-3,38%), do leite longa vida (-2,68%) e das carnes (-2,10%). Batata-inglesa (6,43%) e alho (4,39%), por outro lado, subiram de preço.

No grupo de transportes, o resultado foi influenciado pelo recuo dos automóveis novos (-2,76%) e dos automóveis usados (-0,93%).

Segundo o IBGE, houve influência de um fator pontual, o programa do governo federal para descontos em carros populares. Os automóveis novos exerceram a principal contribuição, em termos individuais, para a deflação de junho (-0,09 ponto percentual).

Ainda em transportes, o instituto destacou o recuo dos combustíveis (-1,85%) com as quedas do óleo diesel (-6,68%), do etanol (-5,11%), do gás veicular (-2,77%) e da gasolina (-1,14%). Já as passagens aéreas subiram 10,96%, após a baixa de 17,73% em maio.

IPCA E JUROS

O IPCA serve de referência para o regime de metas do BC (Banco Central). Em 2023, o centro da meta de inflação perseguida pela autoridade monetária é de 3,25%. O intervalo de tolerância é de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para menos (1,75%).

Com a trégua do IPCA, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e aliados vêm pressionando o BC por uma redução na taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 13,75% ao ano.

O Copom (Comitê de Política Monetária do BC) volta a se reunir nos dias 1º e 2 de agosto para definir o patamar da Selic. Antes da divulgação do IPCA de junho, analistas do mercado financeiro já projetavam o início dos cortes da taxa básica em agosto.

A Selic de dois dígitos tem sido a estratégia do BC para conter os preços e ancorar as expectativas de inflação. O efeito colateral esperado é a perda de fôlego da atividade econômica, porque o custo do crédito fica mais alto para os investimentos das empresas e o consumo das famílias. Esse cenário preocupa Lula e aliados.

Na mediana, analistas do mercado financeiro projetam IPCA de 4,95% no acumulado até dezembro deste ano, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada na segunda (10) pelo BC.

Isso quer dizer que, por ora, as estimativas indicam IPCA acima do teto da meta em 2023 (4,75%). A diferença entre as projeções e o limite da medida de referência, contudo, vem ficando menor nas últimas semanas.

As previsões para a inflação têm sido revisadas para baixo em meio ao cenário de perda de força dos preços no atacado, que mostra reflexos para o consumidor final no varejo.

Em julho, o IPCA deve ser pressionado pelo retorno da cobrança integral de tributos federais sobre combustíveis. Na semana passada, o litro da gasolina teve alta de 5,8% nos postos brasileiros, segundo pesquisa da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

O impacto das deflações registradas no segundo semestre de 2022 também deve sair da base de cálculo do IPCA no acumulado de 12 meses até o final de 2023. Isso deve contribuir para uma variação maior até dezembro do que a atual, de acordo com analistas.

Às vésperas das eleições do ano passado, os preços de produtos e serviços como gasolina e energia foram reduzidos de maneira artificial pelo corte de tributos promovido pelo governo Bolsonaro.

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