Campos Neto defende antecipar início da transição na presidência do Banco Central

Segundo atual presidente da instituição, é importante que seu sucessor tenha a firmeza de dizer não quando necessário

Júlia Moura SÃO PAULO

Presidente do Banco Central até 31 de dezembro deste ano, Roberto Campos Neto defendeu nesta quarta-feira (3) a antecipação no processo de transição no comando da autarquia, pela necessidade de o próximo presidente ser sabatinado pelo Congresso, que entra em recesso ao fim de 2024.

“Seria bom fazer a sabatina este ano. Se um diretor for presidente interino, ele tem que passar por sabatina também”, disse o economista durante evento do Bradesco BBI em São Paulo.

Campos Neto também afirmou que irá fazer uma “transição mais suave possível” para o próximo presidente, fazendo alusão à passagem do governo Bolsonaro para o governo Lula.

Especula-se que o próximo presidente do BC será Gabriel Galípolo, hoje diretor de política monetária da autarquia, após atuar como número dois do ministério da Fazenda durante o início do governo Lula 3.

Tido como homem de confiança do presidente da República, Galípolo desperta em parte do mercado financeiro insegurança em relação à trajetória da Selic. O presidente Lula tem feito críticas a Campos Neto, indicado ao cargo por Jair Bolsonaro (PL), por considerar que ele mantém os juros altos desnecessariamente.

Já o BC justifica que a taxa está no nível necessário para conter a inflação.

“O ciclo de política monetária tem uma diferença, ele tem um timing, vamos dizer assim, um prazo diferenciado. O pior problema que a gente pode ter é a inflação, que corrói o poder de compra de quem está lá embaixo. Então, o melhor plano econômico é a inflação baixa”, completou Campos Neto, que aproveitou para dar um recado ao seu sucessor.

“A coisa mais importante para quem se senta na cadeira hoje é ter a firmeza de dizer não quando for necessário. E vai ser necessário sempre, em algum momento, porque os ciclos são diferentes, os desejos vão ser diferentes, os entendimentos sobre o que é bom vão ser diferentes. Então é importante ter firmeza de dizer não e explicar para dentro e para fora”, disse o economista.

Segundo o presidente do BC, a percepção de risco do mercado financeiro sobre a mudança no comando da autarquia teria caído. “Quando a gente olha o mercado, aquele prêmio de risco que tinha na mudança da gestão diminuiu bastante.”

Para o economista, um dos fatores que contribui para esta redução é a unanimidade das últimas decisões do Copom sobre o tamanho no corte da Selic, hoje em 10,75% ao ano.

“O que traz certo alívio é que a equipe econômica do governo tem mantido um bom relacionamento com o Banco Central, a meta de inflação foi mantida em 3% de forma contínua e, dentre as últimas indicações, a de Paulo Pichetti, um respeitado acadêmico especializado em inflação, foi bem recebida”, diz Sung.

Além da mudança na presidência, o governo também indicará mais dois diretores, levando a maioria do Copom.

“O mais importante é que o BC mantenha sua credibilidade na condução da política monetária para que a inflação continue em direção à meta e os juros sigam em trajetória de queda”, completa Sung,

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