Importação pode paralisar usinas de aço e postergar investimentos

Invasão de aço, principalmente da China e Rússia, tem sido um problema para o setor, que vê a importação alcançar patamares recordes

 

Diário do Comércio –

33ª edição do Congresso Aço Brasil, em São Paulo, discute dificuldades e perspectivas do setor | Crédito: Leo Martins

A substancial elevação do nível de importação de aço no Brasil pode resultar na paralisação das siderúrgicas, bem como na postergação dos aportes previstos para os próximos anos. Somente em agosto de 2023, o País importou 496 mil toneladas de aço, o maior volume desde julho de 2021 e um patamar bem acima da média dos últimos dez exercícios, de 250 mil toneladas. Para o corrente ano, frente a 2022, a previsão é de uma alta de 40% na quantidade de importados. Os temas foram debatidos ontem no primeiro dia da 33ª edição do Congresso Aço Brasil, em São Paulo.

PARTICIPE DE NOSSA COMUNIDADE NO WHATSAPPDe acordo com o presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil, Jefferson de Paula, se nada for feito para que esse cenário se altere, certamente, até o fim deste ano, várias usinas de aço terão que paralisar as atividades, gerando, inclusive, desemprego no País. Outra consequência da manutenção da situação, segundo ele, será o adiamento dos investimentos já programados pelas companhias, cuja estimativa atual indica mais de R$ 63 bilhões nos próximos quatro anos.

Para combater a invasão de aço no Brasil, o dirigente, que ainda é presidente da ArcelorMittal Brasil e CEO da ArcelorMittal Aços Longos e Mineração Latam, disse que o setor tem conversas com o governo federal para que se crie uma proteção à indústria nacional. O produto importado, majoritariamente, provém da China, mas grande parte chega da Rússia. Os dois países são acusados de práticas alusivas ao comércio predatório ao subsidiar os preços dos produtos.

Conforme Paula, foi solicitado que a tarifa de importação do aço seja de 25%, percentual adotado pelos Estados Unidos, México e países da Europa. A alíquota atual praticada pelo Brasil está na casa dos 9,6%, salvo algumas exceções. De acordo com o executivo, as tratativas estão em andamento, reuniões foram realizadas e o governo se mostrou aberto e sensível à discussão.

Além da medida vista como efetiva para barrar a importação de aço, o presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil elencou as soluções, a longo prazo, para que o setor volte a crescer e mantenha os aportes previstos no País. Vale ressaltar que a previsão para este ano é de uma queda de 6% nas vendas brasileiras. Na avaliação do dirigente, investimentos em infraestrutura, juros baixos e disponibilidade de crédito são as soluções para as siderúrgicas brasileiras.

“O que mais consome aço são máquinas e equipamentos, setor automobilístico e construção civil. Esses três segmentos, principalmente, têm que crescer e, para isso, é muito importante investimento em infraestrutura e juros baixos. O governo está no caminho certo, já baixou um ponto percentual, mas ainda temos uma taxa de juro real muito alta, de quase 8%. Isso não existe em nenhum outro país”, salientou Paula em entrevista coletiva no Congresso Aço Brasil 2023.

Ainda de acordo com ele, se os juros permanecem em queda, os bancos disponibilizem crédito e o governo tenha um plano de infraestrutura robusto e que, de fato, funcione, o Produto Interno Bruto (PIB) deverá subir, em média, 4,5% ao ano e o consumo de aço em torno de 5% a 6%.

As dificuldades do setor do aço brasileiro e as políticas comerciais de outros países foram amplamente discutidos no primeiro dia da 33ª edição do Congresso Aço Brasil. O evento, que teve início nessa terça-feira (26), em São Paulo, e termina hoje (27), reúne os principais stakeholders da indústria siderúrgica, além de especialistas e lideranças do cenário econômico e empresarial.

Palestras sobre o cenário atual e as perspectivas da geopolítica do aço, assim como a inserção do Brasil na nova ordem econômica mundial e a recuperação da competitividade sistêmica da indústria foram temas de destaque no encontro. Cerca de 500 pessoas participaram presencialmente e 200 on-line. Nessa quarta-feira (27), um painel com os CEOs das principais siderúrgicas do País discutirá as tendências e desafios do setor siderúrgico brasileiro.

CEO da ArcelorMittal lista desafios da indústria global de aço

De forma remota, o CEO da ArcelorMittal, Aditya Mittal, participou da Conferência Magna do Congresso Aço Brasil 2023. Em uma conversa moderada por Jefferson de Paula, o executivo listou os principais desafios da indústria global de aço. Abordou ainda a preocupação do setor com a China e disse acreditar que os próximos anos serão promissores para a atividade. Por fim, detalhou o plano de investimento da empresa no País, de US$ 5 bilhões nos próximos três anos.

“Quando eu olho para os grandes desafios, em uma base de longo prazo, é termos certeza de que tenhamos as plantas mais seguras e, como indústria, atraiamos os melhores talentos e demonstremos como podemos desempenhar o nosso papel para salvar o planeta. Esses são os maiores desafios e tenho certeza que todos nós estamos conectados e vamos ser bem sucedidos”, disse, citando ainda o que a ArcellorMittal tem feito em termos de ações sustentáveis.

Com relação à concorrência chinesa, o dirigente afirmou ser uma questão crítica para todos e que é preciso criar mecanismos de proteção. Ele ressaltou, porém, que não vê os chineses como um problema tão grave quanto foi em 2015. Para o CEO, a tendência é que a indústria do aço tenha mais oferta e demanda nos próximos dez anos em comparação ao mesmo período anterior.

*O repórter viajou a São Paulo a convite do Instituto Aço Brasil

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