Produção industrial cai 0,7% em 2022 e segue abaixo do pré-pandemia
Em dezembro, indicador ficou estagnado ao registrar variação nula (0%), segundo IBGE
A produção industrial brasileira fechou o ano de 2022 no vermelho, com queda acumulada de 0,7%, informou nesta sexta-feira (3) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Com o resultado, o indicador segue abaixo do patamar pré-pandemia. Está em nível 2,2% inferior ao de fevereiro de 2020, de antes da crise sanitária. Também mostra patamar 18,5% abaixo do recorde da série, de maio de 2011.
Na comparação mensal, a produção industrial ficou estagnada (0%) em dezembro, ante novembro. Esse desempenho veio em linha com as estimativas de mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação nula (0%).
André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE, destacou que a produção industrial opera em nível semelhante ao de janeiro de 2009. Isso ilustra as dificuldades de crescimento enfrentadas pelo setor ao longo dos últimos anos.
Em 2021, a produção industrial havia fechado com alta acumulada de 3,9%, após tombo de 4,5% em 2020 e baixa de 1,1% em 2019. Ou seja, o indicador amargou perdas em 3 dos 4 anos do governo Jair Bolsonaro (PL).
“Muito do crescimento de 2021 tem relação direta com a queda significativa de 2020, ocasionada por conta do início da pandemia. Avançou em 2021, mas foi influenciada por uma base baixa de comparação e não superou as perdas de 2020”, disse Macedo.
Segundo economistas, a indústria não conseguiu mostrar um desempenho mais consistente no ano passado devido a uma combinação de fatores que dificultou o consumo.
Também houve uma migração do consumo de bens industriais para serviços que estavam paralisados na fase inicial da pandemia, dizem analistas.
Em outras palavras, essa mudança teria reduzido a fatia do orçamento das famílias destinada à compra de produtos que saem das fábricas.
Macedo ressaltou que a indústria mostrou sinais de perda de fôlego ao longo do segundo semestre.
“Também há influência do aumento nas taxas de inadimplência e de endividamento. E o mercado de trabalho, que embora tenha mostrado clara recuperação ao longo do ano, ainda se caracteriza pela precarização dos postos de trabalhos gerados”, disse o pesquisador do IBGE.
RECUO DISSEMINADO ENTRE AS ATIVIDADES
A queda de 0,7% em 2022 foi acompanhada por recuos em 17 dos 26 ramos pesquisados na indústria, o que mostra uma redução disseminada, segundo Macedo.
A maior influência negativa veio do segmento das indústrias extrativas, que teve baixa de 3,2%, puxada pelo minério de ferro.
Outros destaques negativos foram produtos de metal (-9%), metalurgia (-5%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-10,7%) e produtos de borracha e de material plástico (-5,7%).
Na minoria das atividades com expansão na produção, a de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis exerceu a maior influência positiva, com alta de 6,6%.
“Trata-se de um setor que manteve comportamento positivo ao longo de 2022, impulsionado, principalmente, por produtos com maior ligação com a mobilidade”, afirmou Macedo.
“Por fim, cabe lembrar também que é um setor que havia recuado em 2021 [-0,7%], ou seja, partiu de uma base menor de comparação”, completou.
CENÁRIO PARA 2023
O ano de 2023 tende a trazer novos desafios para o setor industrial. Projeções de economistas sinalizam uma desaceleração da atividade econômica no Brasil e ameaças vindas do cenário externo.
“Nossa previsão para 2023 é que a indústria continue andando de lado, podendo até registrar meses com resultado negativo, por conta dos fatores que continuarão presentes neste ano: a taxa de juro deve continuar elevada por um bom tempo, o preço das commodities permanece em queda e a economia global ainda não terá um crescimento robusto”, disse em relatório a economista Claudia Moreno, do C6 Bank.
O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) sob o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por outro lado, promete que terá a indústria como foco. A nova diretoria do banco de fomento já falou em necessidade de reindustrialização do país.
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