Pneu do futuro será à prova de furo, feito de casca de arroz e terá Wi-Fi

Perguntamos às fabricantes como serão os pneus daqui 60 anos; confira as previsões

Globo.com – Por Cauê Lira – 13/04/2024 07h00 Atualizado há 2 dias

Autoesporte completa 60 anos em 2024. De 1964 para cá, vimos os carros ficarem mais conectados, econômicos, seguros e tecnológicos. Mas um outro componente também evoluiu nesse período: os pneus. Nas últimas seis décadas, muita coisa mudou para estes aros de borracha tão importantes em absolutamente todos os veículos terrestres. O que os próximos 60 anos reservam para os pneus?

Em clima de aniversário, Autoesporte conversou com os especialistas Roberto Falkenstein, consultor da área de tecnologia inovativa da Pirelli, e Celso Pereira, supervisor comercial de desenvolvimento de produto da Continental, para para entender mais sobre a evolução do setor.

É consenso que o pneu do futuro, disponível nas lojas e oficinas no longínquo ano de 2084, será conectado, sustentável e vai ajudar carros autônomos e elétricos a desempenharem melhor suas funções.

“O pneu vai continuar preto, redondo e com um buraco no meio para encaixar na roda. O que vai mudar radicalmente são os materiais e a implementação de novas tecnologias”, diz Falkenstein.

Para Celso Pereira, da Continental, os pneus do futuro também serão parecidos com os atuais, mas inovações devem proporcionar rupturas no setor. “Inteligência artificial e conectividade vão fazer parte da vida do pneu. Mas, em comparação aos de hoje em dia, devem ser parecidos”.

Em contraponto, outras fabricantes, como a Goodyear, já testam modelos esféricos. Além de melhorarem a estabilidade em velocidades altas e poder girar 360 graus, o desgaste também é menor por conta da grande superfície de borracha.

Novos materiais

O pneu atual ainda é feito com materiais de origem petrolífera, como borracha sintética e negro de fumo. Com o passar dos anos, a Pirelli entende que essa matéria-prima será substituída por elementos naturais.

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“A borracha sintética será substituída pela natural, extraída de uma árvore. O negro de fumo usado como reforço vai dar lugar à sílica de casca de arroz”, projeta Falkenstein. Outros compostos são lignina (um subproduto da madeira), óleo de soja, resina de caju e estearato de zinco vegetal.

“Estudamos fontes alternativas de extração da borracha natural para substituir a de origem fóssil. Até a reciclagem de garrafas pet pode se tornar uma alternativa. Há a expectativa de que um pneu feito com 60% de materiais naturais esteja nas lojas já em 2030”, diz Pereira.

Estes novos materiais não são testados apenas por Pirelli e Continental, mas também por Goodyear, Dunlop, Michelin e Bridgestone.

Conectividade e tecnologia

Os pneus já desempenham funções de segurança, mas os especialistas apontam que as tecnologias atuais serão aperfeiçoadas. Na prática, os pneus devem deixar de ser apenas equipamentos avulsos para se tornarem componentes do sistema de segurança ativa do veículo.

“Alguns carros já monitoram a pressão dos pneus. Com a adoção de um sistema Wi-Fi direto na roda, o pneu pode comunicar este dado com mais precisão ao veículo”, afirma Falkenstein. “Pensando em um mundo com carros autônomos, os pneus podem notificar a presença de buracos e irregularidades aos veículos ao lado”.

Para a Continental, o pneu da década de 2080 poderá monitorar até o próprio desgaste. Isso inclui as condições da banda de rodagem, a profundidade dos sulcos, a temperatura e a pressão. “Podemos até chamar o pneu do futuro de smart tyre”, elabora Pereira.

Com um canal de comunicação entre carro e pneu, a roda do futuro poderá fazer até uma leitura do terreno e limitar a velocidade em ocasiões que colocam a vida do motorista em risco. O consultor da Pirelli elabora.

“É normal que as pessoas esqueçam que o estepe temporário está instalado e atinjam altas velocidades nas estradas. Com o pneu do futuro, o carro receberá um comando via Wi-Fi para limitar a aceleração”

Da mesma forma, os especialistas entendem também que os pneus poderão até mudar de textura ou de pressão de acordo com o tipo de estrada. “O pneu do futuro terá um sistema que permitirá enchê-lo ou esvaziá-lo em movimento. Pensando em vida útil, até mesmo para veículos de carga, será algo revolucionário que aumentará a durabilidade”, pontua o diretor da Continental.

Economia e durabilidade

As fabricantes vão focar em pneus mais duráveis, menos ruidosos e de baixa resistência ao rolamento. Essas características serão fundamentais, ainda mais considerando que apenas carros elétricos estarão à venda daqui 60 anos. “Um pneu de baixa resistência ao rolamento vai consumir menos da bateria e melhorar a autonomia final do veículo”, conjectura o especialista da Continental.

Outro ponto importante sobre a estrutura geral das rodas é que os carros elétricos são mais pesados por causa das baterias. Assim, o desenvolvimento de pneus capazes de aguentar mais peso deve ser acelerado já nos próximos anos. E como os eletrificados não fazem barulho, haverá uma grande preocupação com as emissões sonoras para garantir um trajeto mais silencioso e confortável.

“Antigamente, existia a regra de que para um pneu ter resistência baixa, precisaria comprometer sua durabilidade. Com o avanço da tecnologia, estamos provando que essa associação está errada”, finaliza Celso Pereira.

Os pneus run-flat já são comuns em carros de luxo no Brasil. Eles permitem que o veículo ande alguns quilômetros em velocidade limitada, excluindo a necessidade de parar à beira de uma estrada perigosa para colocar o estepe.

Outras tecnologias, como a seal inside, também estão disponíveis. Ela consiste na aplicação de um selante interno que identifica o furo no pneu e pode fechá-lo sem intervenção humana.

Portanto, não é difícil de imaginar que métodos de reparabilidade serão aprimorados nos próximos 60 anos. Chegaremos ao ponto de um pneu que não fura ou estoura? Para os especialistas, podemos sonhar.

Sustentabilidade
Como todo o setor automotivo, os fabricantes de pneus caminham para um futuro sem emissões. A Pirelli, por exemplo, quer se tornar neutra em carbono a partir de 2030. Isso não passa apenas pela incorporação de processos limpos na produção dos pneus, mas também pela utilização de tecnologias que permitam menos emissão de carbono.

“O objetivo principal é reduzir as emissões de carbono do berço ao túmulo do pneu. Ou seja, desde a coleta dos materiais até o momento em que ele será descartado e reciclado”, destaca Falkenstein.

“Toda a cadeia que gira em torno do pneu terá de ser neutra em carbono em 60 anos. O objetivo é reduzir ao máximo o impacto evitando o desperdício e otimizando a reciclagem. Nos processos de fabricação que utilizam água, o reaproveitamento será fundamental, ”, diz Pereira.

Pesquisas recentes mostram a necessidade de acelerar a mudança. Isso porque os pneus inevitavelmente liberam microplásticos não degradáveis que podem poluir cidades e oceanos. Um estudo da ScienceDirect apontou que entre 8% e 40% destes detritos estão no mar.

O uso de materiais como borracha vegetal, óleo de soja, resina de caju e sílica de casca de arroz vai ajudar a reduzir a emissão de plástico, ou pelo menos auxiliar na decomposição. Afinal, para chegar aos próximos 60 anos, precisamos garantir a existência da humanidade.

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