Pirelli comanda possível cartel de pneus no Brasil
Os 20 áudios mostram diretores e revendedores confessando o esquema como forma de aumentar a margem de lucro da empresa
Investigações do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da Polícia Federal (PF) apontam que a multinacional italiana de pneus Pirelli Brasil Ltda controla, desde 2015, um possível esquema de cartel e dumping, ou seja, a manobra de abaixar a margem de lucro para tentar quebrar as atividades dos concorrentes, no Brasil. É o que mostram áudios obtidos pelo Jornal de Brasília.
Os 20 áudios mostram diretores e revendedores da companhia confessando o esquema como forma de aumentar a margem de lucro da empresa. O material foi entregue e periciado pela PF e Cade.
Os áudios teriam sido enviados às autoridades por um ex-revendedor da marca. Nos diálogos, os diretores da Pirelli afirmaram ter negociado um “alinhamento de preços” com os concorrentes e revendedores para que pudessem “aumentar a margem de lucro”.
Em uma das conversas, o gestor financeiro de uma das empresas que atua como fabricante de pneus da Pirelli no Brasil, caracteriza o esquema como “táticas mafiosas”.
De acordo com os diálogos de diretores e ex-diretores, os percentuais teriam sido reajustados em 2018, de maneira que outros representantes pudessem ser incluídos nos valores promovidos.
Com a prática, a companhia italiana e empresas que aderiram ao esquema acabam afetando todo o setor por meio do abuso econômico.
Segundo outros documentos obtidos pela reportagem, o revendedor decidiu denunciar às autoridades após as práticas brasileiras serem relatadas à sede da empresa em Milão, por meio de canais internos de compliance, e não serem investigadas pela empresa-mãe.
Em outra conversa, gravada em 13 de agosto de 2018, o consultor nacional da Pirelli afirma que, em sua visão, o alinhamento de preços “funciona muito bem” e que a empresa teria fechado mais uma parceria com uma revendedora em Goiânia (GO).
Os encontros, de acordo com o gestor comercial de outra revendedora, para definir estratégias e caminhos a serem tomados pelos integrantes do cartel ocorria a cada “sessenta dias”.
“Hora a gente vai lá em São Paulo, hora ele vai lá na nossa matriz e a gente abre os notebooks lá, vê margem, vê prazo, vê família de produto, compara volume com região, até para trocar umas figurinhas mesmo […]. A gente se encontrou na manhã do sábado inteiro, alinhamos, falamos, falamos o que que a gente esperava dos vendedores, desse alinhamento de marca porque o foco nosso é brigar com o mercado, não é brigar entre a marca”, afirmou o gestor em um dos áudios.
Ainda de acordo com o gestor, as reuniões ocorriam em hotéis e o esquema estaria ocorrendo “em nível de direção”.
A reportagem tentou contato com a Pirelli Brasil, mas, até o momento de publicação deste material, não obteve resposta.
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