País deve ter maior crescimento do PIB em 11 anos com retomada desigual entre os setores

A economia brasileira deve ter, em 2021, o maior crescimento dos últimos onze anos. A projeção do relatório Focus, uma pesquisa feita semanalmente pelo Banco Central junto a instituições financeiras, sinaliza para uma alta próxima de 5,2% no Produto Interno Bruto (PIB).

Gazeta do Povo – Por Vandré Kramer 11/07/2021 22:08

Mas esse avanço não deve ser homogêneo, principalmente na indústria, por causa dos efeitos da crise da Covid-19. Assim, alguns segmentos exibem crescimento exuberante e ajudam a impulsionar o PIB, enquanto outras áreas ainda estão em retração – caso de algumas atividades industriais e também do setor de serviços, mais prejudicados pela pandemia.

“Foi, ao mesmo tempo, um choque de oferta e de demanda”, diz o economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso.

Uma série de fatores contribui para o bom desempenho da economia brasileira neste ano. Ela surpreende desde o primeiro trimestre, quando o PIB cresceu 1,2% na comparação com os três últimos meses de 2020.

É verdade que o crescimento ocorre sobre uma base de comparação muito fraca: em 2020, o PIB encolheu 4,1%, no pior desempenho desde 1990. Mesmo assim, a expansão de 2021 vai além do que era esperado meses atrás.

A diretora de macroeconomia da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro, aponta algumas razões para o avanço do primeiro trimestre:

a boa demanda externa, que favoreceu o segmento de commodities agropecuárias e minerais;
a maior mobilidade das pessoas nos primeiros meses do ano;
a adaptação das empresas e das famílias à nova realidade; e
a não confirmação dos temores em relação à falta do auxílio emergencial no primeiro trimestre.

“Ela [a falta do auxílio emergencial no início do ano] foi compensada, em parte, pela poupança que foi feita nos meses anteriores e pelo aumento de gastos da população de maior renda.”

Mas o cenário do crescimento econômico deve sofrer uma transformação neste segundo semestre. Depois de a indústria ser o carro-chefe na primeira metade do ano, a tendência é de que, com o avanço da vacinação contra a Covid-19, esse posto passe a ser ocupado pelos serviços, que respondem por cerca de 60% da economia brasileira.

“Estamos assistindo a um crescimento que deveria ter acontecido lá atrás, se não fosse a pandemia”, explica Lisandra Barbero, economista do banco Original.

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Quem está crescendo
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos cinco primeiros meses do ano a indústria acumula um crescimento de 13,1% no comparativo com o mesmo período de 2020, quando começaram a ser sentidos mais fortemente os impactos da pandemia. “A demanda nacional e internacional segue aquecida”, destaca Lisandra.

Nos acumulado de 12 meses até maio, o setor acumula um crescimento de 4,9% em relação a igual período anterior. O destaque são segmentos ligados à construção civil, itens de uso doméstico e às máquinas e equipamentos.

A fabricação de cimento teve uma expansão de 20,2%; a de tubos e acessórios de material plástico para uso na construção, 24,5%; e a de tintas, vernizes, esmaltes e lacas, 18,1%. Do lado dos itens de uso doméstico, houve um crescimento de 29,9% na fabricação de eletrodomésticos. A produção de máquinas e equipamentos de uso geral, por sua vez, apresentou um incremento de 17,0%, ao passo que a de tratores, máquinas e equipamentos para a agropecuária subiu 34,7%.

As vendas de equipamentos para o campo foram favorecidas pelo crescimento do agronegócio, que teve uma expansão de 5,35% no primeiro trimestre em comparação ao mesmo período de 2020, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP) e da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA).

A desvalorização do real frente ao dólar, que ganhou força ao longo do ano passado e no primeiro trimestre, pressionou a inflação, mas pode ter dado uma “ajudinha” ao segmento de máquinas e equipamentos e ao de insumos industriais.

“O aumento nos custos para trazer esses itens de fora favoreceu uma substituição de importações”, explica a diretora e macroeconomia da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro.

Fernando Ribeiro Leite, professor do Insper, destaca um dos reflexos positivos dessa conjuntura: a recuperação da taxa de investimento da economia. No ano passado, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que mede os gastos com máquinas, equipamentos e construção, correspondeu a 16,43% do PIB. Foi o maior índice em cinco ano, e o terceiro crescimento seguido.

“As companhias estão aproveitando esta oportunidade. Imóveis também estão mais em conta e as empresas mais baratas, o que favorece fusões e aquisições”, diz Leite.

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https://www.gazetadopovo.com.br/economia/crescimento-deve-ser-maior-onze-anos-mas-nao-sera-equilibrado/

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