‘O que importa na economia não é a Selic’, diz Campos Neto

Segundo presidente do BC, taxa básica de juros é um instrumento que precisa ser conduzido com credibilidade

Nathalia GarciaJoão Gabriel BRASÍLIA

Em meio à pressão do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela redução dos juros, o presidente do Banco CentralRoberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira (27) que a taxa básica de juros (Selic) é um instrumento que precisa ser conduzido com credibilidade para criar condições favoráveis para a economia brasileira.

“O que importa na economia não é a Selic, é o que a gente chama de condições financeiras, que é o total que eu tenho liquidez na economia. A Selic é um instrumento que, para gerar condições de liquidez, tem que ser conduzido com credibilidade”, disse Campos Neto em sessão de debate no Senado Federal.

chefe da autoridade monetária vem sendo alvo de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de integrantes do governo devido ao nível elevado de juros no país –a Selic está fixada hoje em 13,75% ao ano– em meio a um cenário de desaceleração da atividade econômica e aumento da inadimplência.

Em sua apresentação, Campos Neto destacou que a inflação brasileira está abaixo da média na comparação com outros países, lembrando que o país foi um dos primeiros a subir juros. Ele disse ainda que a inflação de curto prazo tem caído lentamente e ressaltou que os núcleos continuam elevados.

“O Banco Central do Brasil foi um dos primeiros a subir a taxa de juros. A inflação hoje está abaixo da média do mundo desenvolvido e do emergente, com exceção da Ásia”, disse.

“Quando olhamos as curvas [de juros] futuras, elas começaram a mostrar uma inversão, começaram a melhorar, e com algumas medidas que o governo tem tomado elas têm seguido nessa trajetória de melhora. A inflação do curto prazo tem caído, mas muito lentamente”, acrescentou.

O índice voltou a ficar abaixo do teto da meta de inflação definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) para este ano (4,75%). O alvo central para 2023 é 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Na avaliação de especialistas do mercado, a desaceleração da inflação não deve ser suficiente para alterar a decisão do BC de manter inalterada a Selic na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária).

Aos senadores, Campos Neto defendeu o regime de metas de inflação e a autonomia do BC, além de ter enaltecido o caráter social da atuação do órgão. Ele também disse que é preciso perseverar no processo de combate à inflação para assegurar estabilidade social no país.

“Precisamos ainda persistir no processo de garantir a estabilidade de preços, que é tão importante para os mais pobres. Não se consegue estabilidade social com inflação descontrolada”, afirmou.

Os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento) também lideraram a discussão sobre juros, inflação e crescimento econômico –iniciativa sugerida pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Entre os debatedores, participaram o ex-presidente do BC, Armínio Fraga, o ex-presidente da Câmara dos Deputados e atual presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras, Rodrigo Maia, os presidentes da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Isaac Sidney Ferreira, e da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Josué Gomes da Silva, e da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Robson Braga de Andrade, além de outros especialistas.

As declarações de Campos Neto foram dadas durante o “silêncio do Copom”, período anterior e posterior às reuniões do colegiado do BC durante o qual seus membros devem evitar “ao máximo” declarações públicas. O próximo encontro está programado para os dias 2 e 3 de maio.

“Havendo excepcional necessidade de comunicação durante o silêncio do Copom, o presidente poderá realizar declarações públicas, na forma de entendimentos com os demais membros desse colegiado, procurando dar máxima publicidade”, diz a norma.

Assim como em suas mais recentes apresentações, Campos Neto defendeu o combate à inflação como instrumento social e o caráter técnico da tomada de decisão do Copom sobre a calibragem da taxa básica de juros.

O presidente do BC compareceu ao Congresso Nacional pela segunda vez nesta semana. Na última terça-feira (25), Campos Neto participou de uma audiência pública na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) para dar explicações sobre o elevado patamar da Selic.

Nos últimos meses, Lula colocou pressão sobre Campos Neto, a quem se referiu como “esse cidadão”, gerou debate sobre a autonomia do BC e colocou em questão as metas de inflação definidas pelo CMN.

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