Não há ‘mágica’ para equilibrar contas públicas, diz Campos Neto em audiência no Senado

Presidente do BC sugere que, sem disciplina, país não terá crescimento sustentável

Nathalia Garcia BRASÍLIA

O presidente do Banco CentralRoberto Campos Neto, disse nesta terça-feira (25), em audiência pública na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado Federal, que o crescimento sustentável do país, com controle da inflação, não depende de “mágica” nem de uma “bala de prata”, mas de disciplina das contas públicas.

“É muito importante a gente entender que não tem mágica no fiscal, infelizmente não tem bala de prata. Se a gente não tiver as contas em dia, se não tiver uma perspectiva, a gente não consegue melhorar”, afirmou.

Em defesa de seu argumento, Campos Neto citou como exemplo o caso do Reino Unido, que culminou com a renúncia da primeira-ministra Liz Truss. O gatilho para a saída da sucessora de Boris Johnson foi o lançamento de um programa econômico de corte de impostos e aumento dos gastos públicos.

“Foi um problema que gerou uma reação de mercado imediata, que o Banco Central inglês teve que entrar para socorrer e que caiu o primeiro-ministro e o ministro da Economia em um espaço de uma semana”, disse.

“Voltando ao exemplo da Inglaterra, não tem infelizmente bala de prata. É muito difícil hoje um país seguir o sistema de metas que a gente segue sem ter um regime de disciplina fiscal”, acrescentou. “Nós entendemos que esse é o caminho a ser seguido.”

Campos Neto foi convidado pelos parlamentares a comparecer no Congresso Nacional para dar explicações sobre a taxa básica de juros (Selic) –fixada desde agosto de 2022 em 13,75% ao ano.

O convite ao presidente do BC veio em reação às críticas diretas e recorrentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de integrantes do governo ao nível elevado de juros no país em meio a um cenário de desaceleração da atividade econômica e aumento da inadimplência –pagamentos em atraso há mais de 90 dias.

Aos parlamentares, Campos Neto voltou a dizer que o arcabouço fiscal, proposto pelo governo Lula, foi um “movimento na direção certa”, que remove o risco de uma piora significativa na trajetória da dívida pública.

No entanto, o chefe da autoridade monetária ressaltou mais uma vez que não há uma relação automática com o corte de juros.

“Vamos lembrar que não tem relação mecânica [com o processo de redução de juros], o que a gente precisa é que o canal de expectativas ou o canal de projeções, junto com esse canal de credibilidade, que ele atue de forma a propiciar a possibilidade de o Banco Central eventualmente cair os juros”, disse.

O presidente do BC destacou em sua apresentação que a aprovação do teto de gastos e de reformas estruturais, como a da Previdência, gerou uma melhor perspectiva fiscal, contribuindo para a queda nas taxas de juros no passado.

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