Mercado vê manutenção da Selic em 13,75%, mesmo com recados mais duros do Banco Central

Estadão – Por Marianna Gualter, Cícero Cotrim e Italo Bertão Filho – Atualização: Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Mesmo assim, o mercado financeiro acredita que o ciclo de alta da Selic, a taxa básica de juros, chegou ao fim na reunião de agosto. Para 41 das 50 instituições financeira ouvidas pelo Projeções Broadcast, a taxa deve ser mantida em 13,75% na reunião que começa nesta terça-feira, 20, e se encerra na quarta, 21, em um movimento que encerraria o mais longo ciclo de aperto monetário da história. No entanto, economistas reconhecem que houve um aumento do risco de um ajuste residual de 0,25 ponto.

Viés de alta

Para Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco Alfa, o cenário base é de manutenção dos juros em 13,75% nesta reunião, em uma decisão que deve ser acompanhada de um discurso duro por parte do BC – um quadro classificado por ele como uma “parada hawkish” (termo do mercado financeiro que significa a inclinação por taxas de juros mais altas para conter a inflação, em contraposição a uma postura “dovish”, de juros mais baixos). Mas o economista reconhece que, diante do aumento das projeções para 2024, o Copom pode optar por um aperto residual como forma de sinalizar ao mercado o seu comprometimento com a meta.

“O único motivo pelo qual eu vejo o risco de um aumento para 14% é para reforçar não só com palavras, mas com ações, esse discurso ‘hawkish’. Em termos de convergência da inflação, eu não vejo esse 0,25 ponto de diferença ter um impacto relevante, mas poderia ser uma forma de fazer o mercado reverter essa expectativa de 2024″, diz o economista, que reconhece viés de alta na projeção da Selic no fim desse ciclo de aumentos iniciado no ano passado.

Sede do Banco Central; preocupação com a inflação ainda é grande e o banco não deve baixar a guarda.
Sede do Banco Central; preocupação com a inflação ainda é grande e o banco não deve baixar a guarda. Foto: Dida Sampaio/Estadão

A incerteza atinge também as projeções de analistas que têm no cenário base um aumento residual de 0,25 ponto. O economista da Tendências Consultoria Integrada Silvio Campos Neto espera alta da taxa Selic para 14% em setembro, mas reconhece um “cenário dividido” nesta reunião. “A possibilidade de encerrar o ciclo em 13,75% está perfeitamente em jogo, até porque os sinais desde o último Copom não foram claros”, diz.

Apesar das sinalizações públicas com contornos mais “hawkish”, o BC moderou em encontros reservados o grau de preocupação com as expectativas de inflação do mercado. Em uma reunião, o diretor de Política Econômica do banco, Diogo Guillen, relativizou a preocupação com as projeções de inflação e chegou a sugerir que a mediana do Focus para 2024 estaria compatível com a meta, conforme apurou o Estadão/Broadcast.

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