Mercado de contêineres continuará instável em 2022, avaliam especialistas

Portos e Navios – Marjorie Avelar – 12 Setembro 2022

Mesmo diante da queda dos preços do frete marítimo, ainda há problemas pontuais como indisponibilidade de mais espaços nos navios, que vem impactando rolagem de cargas, além do tempo reduzido para disponibilização de unidades vazias e do tempo menor para abertura de janelas nos operadores portuários

O cenário logístico do setor marítimo vem dando sinais de recuperação em 2022, ao ser comparado com o que foi observado no início do ano passado, quando os exportadores brasileiros enfrentaram uma baixa disponibilidade de contêineres e de espaços nos navios para atender às suas exportações, além da disparada dos preços do frete, conforme avaliou, à Portos e Navios, o diretor executivo da Associação Brasileira dos Terminais Retroportuários e das Transportadoras de Contêineres (ABTTC), Wagner Rodrigo Cruz de Souza.

Mesmo assim, segundo ele, não é possível afirmar que o mercado de contêineres já esteja dentro da normalidade, em relação ao período pré-pandemia. “Temos observado problemas pontuais quanto à indisponibilidade de mais espaços nos navios, um cenário que continua impactando a rolagem de cargas, além do reduzido tempo para a disponibilização de unidades vazias e do reduzido tempo para a abertura de janelas nos operadores portuários, o que prejudica diretamente as empresas exportadoras brasileiras”, analisou Souza.

Ao avaliar o momento, Leandro Carelli Barreto, sócio da Solve Shipping, indicou uma forte queda de preços dos fretes em setembro, o que considera bastante incomum, pois, historicamente, é um mês de alta nos fretes spot. “Vimos aqui, no Brasil, algumas rotas com o frete caindo até 30%. Mas acredito que esse cenário não seja necessariamente bom, por ser um sinal de que o arrefecimento da demanda global tem sido muito mais forte do que o esperado, e isso pode sinalizar para uma recessão global à vista”, alertou o executivo.

O diretor executivo da ABTTC também destacou informações sobre queda de até 60% do frete para algumas rotas específicas. “Isso já vem refletindo no afrouxamento dos gargalos logísticos enfrentados pelo setor, em 2021/2022, com o fechamento e atraso de escalas nos portos. Embora tenhamos notícias dessa redução, os valores ainda estão acima dos níveis pré-pandemia, mas temos uma grande expectativa de que os valores do frete marítimo reduzam ainda mais, no restante deste ano e em 2023”, disse Souza.

O sócio da Solve reforçou que os fretes vêm mostrando tendência de queda e que vão cair mais. “O principal indicador mundial de frete spot – o ‘Shanghai Export Container Index’ – indicou, na última sexta-feira (9), que ele já estava 50% abaixo do pico, que foi atingido em janeiro de 2022”, citou Barreto, acrescentando que o frete já caiu pela metade em uma média global, sobretudo, para as principais rotas leste-oeste, como China-Estados Unidos e China-Europa.

Embora tenha notado uma queda bastante significativa, ainda em 2022, Barreto ressaltou que, como os custos dos armadores aumentou muito, por conta dos preços dos combustíveis e dos custos de afretamento de navios, que mais que triplicou, é quase improvável que os preços do frete marítimo retornem aos níveis pré-pandemia, ainda este ano.

Portos
Sobre os atrasos nos portos, o diretor executivo da ABTTC contou que, embora não haja um levantamento atualizado, a instituição tem verificado, junto aos seus associados, um elevado grau de rolagem de cargas. “Em nosso entendimento, isso tem a ver com uma menor disponibilidade de embarcações em relação à demanda de cargas a exportar”, salientou Souza.

Para Barreto, da Solve, esses atrasos, de modo geral, têm caído bastante, tanto no Brasil como no restante do mundo, sendo um importante indicador de que a demanda está arrefecendo: “Ter uma diminuição de congestionamentos em pleno ‘high season’ [alta temporada] também reforça a possibilidade, cada vez maior, de uma recessão global”.

De acordo com o consultor, a maior dificuldade atual, tanto para os armadores como para os exportadores, é conseguir entender e interpretar os sinais do mercado de forma a tentar planejar ou construir novos planos de negócios. “O cenário está extremamente volátil e isso é ruim para todo mundo, pois dificulta os planejamentos e, consequentemente, os investimentos. E você precisa de planos para poder fazer investimentos. Então, essa volatilidade talvez seja uma das maiores dificuldades para os armadores e donos de cargas”.

A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) ressaltou que está atenta ao mercado de contêineres: “Uma das ações em andamento é a audiência pública 08/2022, que trata sobre a padronização da estrutura de serviços prestados pelos terminais de contêineres, a exemplo das taxas cobradas aos usuários”, destacou a agência à reportagem. De acordo com a Antaq, após o término do período para recebimento das contribuições, o assunto será analisado e deliberado pela diretoria colegiada. “A respeito do escaneamento dos contêineres, a autarquia já decidiu o mérito sobre o assunto, conforme resolução 7321/Antaq, de 2019”, informou em comunicado.

A agência também destacou outra ação, envolvendo a criação de um grupo de trabalho para avaliar os impactos na pandemia da Covid-19 no transporte marítimo de contêineres. “Em agosto, a agência apresentou o relatório final, que mostrou as omissões de escala, a concentração de movimentação de cargas, a falta de previsibilidade da entrega da carga e o aumento dos fretes como os principais impactos observados. Por enquanto, a Antaq vai monitorar o assunto e atuar em casos específicos de denúncia, abusividade ou onde for necessária a presença da agência reguladora”, acrescentou.

 

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