Inflação fica acima das projeções em janeiro com pressão de alimentos
IPCA desacelera a 0,42%, enquanto analistas esperavam 0,34%; taxa em 12 meses atinge 4,51%, diz IBGE
A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), desacelerou a 0,42% em janeiro, após marcar 0,56% em dezembro, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (8) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Apesar da perda de força, o IPCA voltou a sofrer pressão da alta dos alimentos e ficou acima da mediana das projeções do mercado financeiro. A expectativa de analistas consultados pela agência Bloomberg era de uma variação menor, de 0,34%, no primeiro mês deste ano.
Com o novo resultado, a inflação atingiu 4,51% no acumulado de 12 meses, diz o IBGE. Nesse recorte, o IPCA era de 4,62% até dezembro.
ALIMENTOS SOBEM COM EL NIÑO
Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados, 7 tiveram alta de preços em janeiro. O destaque veio do grupo alimentação e bebidas, cuja inflação acelerou a 1,38%, após registrar 1,11% no mês anterior.
Com o novo resultado, o segmento teve impacto de 0,29 ponto percentual no IPCA —o principal da pesquisa. A alta de 1,38% é a maior para alimentação e bebidas em um mês de janeiro desde 2016 (2,28%).
Segundo André Almeida, gerente da pesquisa do IPCA, o aumento dos preços reflete as temperaturas altas e as chuvas intensas em regiões produtoras do país. Esses eventos dificultam o cultivo no campo e reduzem a oferta de parte das mercadorias.
“Historicamente observamos alta dos preços dos alimentos nos meses de verão, por conta da temperatura mais alta e das chuvas. Neste ano, isso é intensificado pelo fenômeno El Niño“, disse Almeida.
A carestia de alimentação e bebidas foi puxada pela alimentação no domicílio, que acelerou a 1,81% em janeiro, após marcar 1,34% em dezembro.
O IBGE destacou os avanços da cenoura (43,85%), da batata-inglesa (29,45%), do feijão-carioca (9,70%), do arroz (6,39%) e das frutas (5,07%).
A batata-inglesa, aliás, teve o maior impacto individual no IPCA do primeiro mês de 2024 (0,07 ponto percentual). Já a alimentação fora do domicílio perdeu força em janeiro (0,25%) na comparação com o mês anterior (0,53%).
PASSAGEM AÉREA ALIVIA IPCA
Na contramão dos alimentos, o grupo dos transportes ajudou o IPCA a desacelerar no início de 2024. Esse segmento registrou queda de 0,65% em janeiro, após alta de 0,48% em dezembro. O impacto no índice foi de -0,14 ponto percentual.
A deflação (baixa) dos transportes foi puxada pela passagem área. Os preços do bilhete de avião caíram 15,22% em janeiro, depois da alta de 8,87% em dezembro. Individualmente, a passagem teve o principal impacto do lado das quedas no IPCA (-0,15 ponto percentual).
Almeida associou a redução dos preços desse subitem a uma base de comparação elevada. Segundo o pesquisador do IBGE, a queda do querosene de aviação, o QAV, também pode ter contribuído para aliviar o custo das tarifas. Apesar da trégua, a passagem ainda acumula alta de 25,48% em 12 meses.
CENTRO DA META E PROJEÇÕES PARA 2024
O centro da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central) é de 3% para o acumulado de 2024. A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos ou para mais. Assim, a meta será cumprida se o IPCA ficar no intervalo de 1,5% (piso) a 4,5% (teto).
Na mediana, projeções do mercado financeiro apontam que o IPCA fechará 2024 em 3,81%, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada pelo BC na terça-feira (6). A previsão está abaixo do teto da meta (4,5%).
Segundo analistas, os impactos do El Niño tendem a pressionar em 2024 os preços dos alimentos, que afetam principalmente o bolso dos consumidores mais pobres. As famílias com renda menor destinam uma fatia maior do orçamento, em termos proporcionais, para a compra de comida.
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