Inflação desacelera a 0,16% em março e fica abaixo das projeções
IPCA também perde força no acumulado de 12 meses e atinge 3,93%, diz IBGE
A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), desacelerou a 0,16% em março, após marcar 0,83% em fevereiro, apontou nesta quarta-feira (10) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O novo resultado ficou abaixo da mediana das projeções do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam variação de 0,25% em março.
A alta de 0,16% é a menor para o mês desde 2020. Naquele período, marcado pelo início da pandemia de Covid-19, a inflação havia sido de 0,07%.
ALIMENTOS DESACELERAM, MAS AINDA PRESSIONAM
Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados, 6 tiveram alta de preços no IPCA de março. A maior elevação (0,53%) e o principal impacto positivo no índice (0,11 ponto percentual) vieram de alimentação e bebidas.
A alimentação no domicílio, que integra o segmento de alimentação e bebidas, desacelerou de 1,12% em fevereiro para 0,59% em março.
Ainda houve pressões de itens como cebola (14,34%), tomate (9,85%), ovo de galinha (4,59%), frutas (3,75%) e leite longa vida (2,63%).
“Problemas relacionados às questões climáticas fizeram os preços dos alimentos, em geral, aumentarem nos últimos meses. Em março, os preços seguem subindo, mas com menos intensidade”, disse o gerente da pesquisa do IPCA, André Almeida.
EDUCAÇÃO DÁ TRÉGUA APÓS REAJUSTES DE FEVEREIRO
Educação foi outro grupo que contribuiu para a trégua da inflação. A alta dos preços do segmento passou de 4,98% em fevereiro para 0,14% em março.
No segundo mês de 2024, o ramo havia puxado o IPCA devido aos reajustes habitualmente praticados no início do ano letivo, o que não se repetiu na pesquisa mais recente.
Entre os grupos, a principal queda de preços veio de transportes em março: -0,33%. O segmento contribuiu com -0,07 ponto percentual no IPCA.
O IBGE identificou uma baixa de 9,14% nos preços da passagem aérea, que integra o cálculo de transportes. Foi a terceira redução consecutiva da tarifa de avião.
Segundo Almeida, o fim da demanda por viagens de férias de verão e a baixa do querosene de aviação podem explicar o comportamento dos preços. Apesar do movimento recente, a passagem ainda acumula alta de 18,65% em 12 meses.
A gasolina, por sua vez, subiu 0,21% em março, após avanço de 2,93% em fevereiro. A inflação menor do combustível também impactou o resultado de transportes, indicou o IBGE.
ETA DE INFLAÇÃO E JUROS
O comportamento dos preços no IPCA serve como referência para a definição da taxa básica de juros (Selic) pelo BC (Banco Central). Em 2024, o centro da meta de inflação perseguida pelo BC é de 3%.
A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos ou para mais. Ou seja, a meta será cumprida se o IPCA ficar no intervalo de 1,5% (piso) a 4,5% (teto) no acumulado do ano.
Na mediana, projeções do mercado financeiro apontavam alta de 3,76% para o índice em 2024, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada na terça (9) pelo BC. A estimativa está abaixo do teto da meta (4,5%).
Do ponto de vista qualitativo a leitura foi melhor do que esperávamos. A melhora, quase que disseminada, nos núcleos foi animadora e reforça um cenário desinflacionário mais consistente no curto prazo.
No início deste ano, a inflação do setor de serviços virou motivo de alerta para o BC ao mostrar sinais de persistência com o mercado de trabalho ainda aquecido no Brasil, dizem economistas.
Segundo eles, o comportamento desses preços pode tornar mais lento o processo de desinflação como um todo e, consequentemente, frear o ritmo de queda da taxa básica de juros.
A Selic está em 10,75% ao ano. Analistas do mercado projetam taxa de juros de 9% ao final de 2024, segundo o boletim Focus.
Nesta quarta, o IBGE informou que a inflação de serviços desacelerou de 5,25% para 5,09% no acumulado de 12 meses até março.
É a menor taxa desde janeiro de 2022, quando também estava em 5,09%. Apesar do alívio, o índice de serviços segue acima do IPCA em termos gerais (3,93%).
“Temos observado essa trajetória de desaceleração de serviços, embora ainda acima do índice geral. Alguns fatores podem influenciar. Entre eles, a demanda”, afirmou Almeida.
“A gente observa manutenção da população ocupada [com trabalho], aumento do rendimento médio. São fatores que podem contribuir para uma maior demanda por produtos e serviços”, completou.
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