FMI vê Brasil melhor este ano, mas com contas piores à frente, e Guedes critica projeções

Estadão – Foto: Yuri Gripas/Reuters – Por Aline Bronzati – Atualização: 

Para ministro da Economia, economistas e organismos têm errado previsões para o Brasil por ‘questões técnicas’ e ‘militância política’

A melhora nas projeções do FMI tem, contudo, vida curta. À frente, o Fundo vê o Brasil com aumento da sua dívida bruta e no vermelho pelos próximos dois anos, retomando o equilíbrio das contas apenas em 2025. Como pano de fundo, o aumento dos gastos por parte do governo de Jair Bolsonaro às vésperas das eleições no Brasil, dentre eles o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600,00.

“As projeções fiscais para 2022 refletem o último anúncio de política (do governo brasileiro)”, afirma o FMI, no relatório, sem dar mais detalhes.

Para o organismo, o impacto fiscal começará a aparecer já no primeiro ano do futuro governo. O Fundo espera que o déficit primário do País alcance o patamar de 0,8% em 2023. No ano seguinte, o indicador voltará a se reduzir, para 0,3%, com as contas públicas retomando ao azul somente em 2025. Se mantida a trajetória positiva, o Brasil pode apresentar superávit primário de 1,0% em 2027, em sua melhor performance desde 2013, quando o indicador ficou em 1,7%, conforme projeções divulgadas hoje pelo Fundo.

Já em termos de endividamento, o FMI espera que a relação entre a dívida bruta e o Produto Interno Bruto (PIB) – um dos principais indicadores de solvência de um país e avaliado de perto pelas agências de classificação de risco – do Brasil se reduza para 88,2% neste ano, ante 93% em 2021. Novamente, caso o cenário traçado pelo Fundo se materialize, seria o mais benigno desde 2016.

Ainda assim, seu endividamento total deve ser um dos maiores entre os países emergentes neste ano, atrás somente do Egito, segundo o organismo. O FMI explica que suas projeções não consideram o setor público não-financeiro, excluindo Eletrobras e Petrobras e incluindo a dívida soberana mantida no balanço do Banco Central (BC).

Na visão do organismo, o impulso fiscal contratado, com maiores gastos às vésperas das eleições no País, deve começar a pesar a partir do próximo ano, quando a proporção dívida/PIB volta a subir, chegando a 88,9%. Para o Fundo, a trajetória deve se manter em alta nos exercícios seguintes, e permear todo o futuro governo. Avançará para a casa dos 90,6% em 2024, até chegar em 93,3% em 2027.

Ontem, o FMI melhorou suas projeções para a economia brasileira e passou a prever crescimento de 2,8% em 2022. A estimativa anterior era de avanço de 1,7%. Ainda assim, o País deve crescer abaixo da média global e de seus pares emergentes, de acordo com o Fundo.

Críticas de Paulo Guedes

O ministro da Economia, Paulo Guedes, no entanto, voltou a criticar as projeções do Fundo para o Brasil, como já havia feito na terça-feira. Para ele, o organismo “vai errar novamente”, e deve estar computando em seus cenários a vitória do “outro candidato”, disse, sem mencionar o petista Luiz Inácio Lula da Silva.

“Os números vão depender muito do que nós fizermos. Se nós, por exemplo, acelerarmos os programas de privatizações, fizermos nossas reformas, eles (FMI) vão errar de novo”, disse Guedes, a jornalistas, após participar de conferência do JPMorgan.

O ministro brasileiro repetiu que, talvez, o FMI esteja prevendo que o outro candidato vai ganhar as eleições, para justificar as projeções mais céticas. “E, então, eles estão certos, [o Brasil] vai entrar em déficit, vai crescer menos e tudo isso vai passar a ser verdade”, acrescentou.

Segundo Guedes, economistas e organismos têm errado as projeções para o Brasil por dois motivos: um técnico e, o outro, “militância política”. No caso do FMI, conforme ele, o problema é técnico, com os modelos de estimativas não conseguindo capturar as mudanças que o atual governo fez em termos da estrutura da economia, com um “tsunami de investimentos privados” e não mais públicos.

“A estrutura da economia já mudou. Está sendo de coisa nova acontecendo, mas os modelos não estão capturando isso”, reforçou, acrescentando que os mesmos têm de ser ajustados.

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