Estados brasileiros têm vagas de emprego sobrando e disputam trabalhadores; veja quais são

Folha de São Paulo – Por Luiz Guilherme Gerbelli, Luciana Dyniewicz e Renée Pereira – Foto: Carl de Souza/AFP

Regiões que encerraram 2022 com taxa de desocupação abaixo de 4% foram beneficiadas pela força do agronegócio ou pela diversificação da economia local

Em 2022, Mato GrossoMato Grosso do SulRondônia e Santa Catarina encerraram o ano com uma taxa de desocupação abaixo de 4%, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Trimestral, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Enquanto isso, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Amapá continuam com taxas acima de 10%.

Os números positivos do mercado de trabalho de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia podem ser explicados pelo bom desempenho do agronegócio nos últimos anos, o que ajudou a estimular toda a economia local.

“De um modo geral, são Estados com um conjunto de atividades relacionadas ao agronegócio”, afirma Ezequiel Resende, coordenador da unidade de economia, estudos e pesquisa da Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Fiems).

A força do agronegócio não beneficiou apenas o setor nesses Estados, mas toda a cadeia ligada a ele – como produção de máquinas. Em 2023, por exemplo, a expectativa é a de que o País colha uma safra recorde de grãos, alcançando 298 milhões de toneladas, um crescimento de 13,3% em relação a 2022 (34,9 milhões de toneladas).

Em Rondônia, porém, apesar do agro movimentar o mercado de trabalho, a baixa taxa de desemprego também está associada à reduzida participação da força de trabalho. Enquanto no Brasil, no ano passado, 62,4% da população em idade de trabalhar estava empregada ou buscava emprego, em Rondônia, esse número era de 60,5%. Essa diferença sugere que, no Estado, há uma busca menor por ocupação, segundo o economista Lucas Assis, da consultoria Tendências.

Já em Santa Catarina, a baixa taxa de desemprego tem uma explicação que vai além do agronegócio. A diversificação da economia torna improvável uma explosão no desemprego mesmo quando o País enfrenta crises severas. Nessas ocasiões, quando um segmento da economia catarinense passa por dificuldades graves, costuma haver outro indo bem para compensar.

Na cidade de Itajaí, no litoral do Estado, a empresária Mirela Raupp diz que tem saudades do tempo em que era “assediada” por trabalhadores em busca de uma vaga de emprego em seu café. “Não precisávamos ir atrás das pessoas para contratar. Eles vinham até a gente.” Hoje a situação é oposta: “Temos de correr atrás, colocar anúncio, procurar no balcão de empregos (da prefeitura) e nas redes sociais. E isso não significa ter sucesso para encontrar um profissional.”

Atualmente, ela tem duas vagas abertas no estabelecimento, mas não consegue preencher. “Algumas pessoas respondem aos anúncios, mas quando sabem que precisa trabalhar aos domingos, desistem. Quando começam a trabalhar, ficam um mês e vão embora.”

Na cidade, os pequenos negócios sofrem ainda mais com o problema de falta de mão de obra, pois competem com grandes companhias que oferecem um pacote mais atrativo de benefícios. Hoje Itajaí tem o segundo maior PIB de Santa Catarina, a frente da capital Florianópolis.

Com mais de 220 mil habitantes, a cidade tem uma economia baseada nas atividades portuárias. Além do porto público de Itajaí, o Porto de Navegantes, localizado do outro lado do rio na vizinha Navegantes, movimenta a economia local. De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, o maior gerador de empregos no município é o setor de serviços, que engloba a cadeia logística, seguido por indústria e comércio.

Hoje, segundo a prefeitura, o Balcão de Empregos tem 1,5 mil vagas oferecidas por empresas de várias áreas. Mas preenchê-las nem sempre é uma tarefa fácil. Se por um um lado os empresários sofrem para encontrar candidatos, do outro, os profissionais escolhem onde querem trabalhar, como é o caso de João Paulo Lima. Hoje ele trabalha em uma loja em Itajaí, mas já recebeu proposta de três outros estabelecimento sem nem ter enviado um currículo.

“Recebo mensagens de WhatsApp e e-mail de locais para os quais nunca enviei um currículo. Já tive reuniões frutos de indicação nas área de logística e construção civil”, diz ele, um paulista formado em engenharia civil. “Aqui tem muita oportunidade de emprego e as pessoas podem escolher onde, quais condições querem e do que estão dispostas a abrir mão para trabalhar”, diz ele, que mora na cidade há quase dois anos.

Santa Catarina enfrentou gargalo no verão

O verão deste ano deixou evidente o gargalo de mão de obra no setor de bares e restaurantes de Santa Catarina. Um levantamento feito pela unidade do Estado da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) mostrou que quase 64% dos estabelecimentos tiveram dificuldade para encontrar trabalhadores qualificados.

Foi o principal problema apontado pelos empresários do setor. Em segundo lugar, apareceu o custo com insumos (54%). “É um gargalo bem grande. Há vagas de trabalho em vários setores e acaba diminuindo (a oferta de mão de obra) para o nosso”, afirma Juliana Mota, presidente da Abrasel de Santa Catarina.

O Estado é o que aparece com mais frequência no topo do ranking daqueles com menor taxa de desemprego do País desde o início da série histórica da Pnad Contínua, em 2012. No ano passado, a taxa ficou em 3,2%.

Para o empresário catarinense Marcos Sérgio Bechtold, além da falta de qualificação, a questão do modelo de trabalho tem dificultado na contratação no Estado. Ele tem uma agência de publicidade e uma produtora de conteúdos. “Desde a pandemia, as pessoas só querem trabalhar em home office, mas a gente já testou o modelo e não deu muito certo.” Segundo ele, boa parte dos candidatos querem ter flexibilidade para trabalhar e não quer cumprir horários estabelecidos.

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