Dólar salta a R$ 5,20 após dados de emprego nos EUA sinalizarem juros altos por mais tempo

Criação de vagas no mercado de trabalho americana veio acima do esperado e aumentou temores do mercado

Marcelo Azevedo SÃO PAULO

dólar registrava forte alta e operava acima dos R$ 5,20 na manhã desta sexta-feira (6) após a divulgação de dados de emprego nos Estados Unidos, que sinalizaram aquecimento do mercado de trabalho americano e aumentaram apostas de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) deve manter taxas de juros mais altas por mais tempo.

Relatório do Departamento do Trabalho dos EUA apontou que foram criados 336 mil empregos em setembro, número bem maior que a previsão de 170 mil vagas de economistas consultados pela Reuters.

Os dados de agosto, porém, foram revisados para cima, mostrando 227 mil empregos criados, em vez dos 187 mil informados anteriormente, atenuando do impacto dos números de setembro.

“O payroll [relatório de emprego] deve reforçar a preocupação com austeridade do Fed, mas, principalmente, consolidar a posição de que a autoridade não iniciará o ciclo de redução de juros em breve, o que apostamos que deverá ocorrer apenas no final de 2024”, afirma Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.

Já a Bolsa brasileira começou o dia em forte queda, derrubada justamente pelo cenário americano. Expectativa de alta de juros nos EUA tendem a atrair recursos para a renda fixa do país, penalizando ativos de risco e países emergentes.

Às 10h41, o dólar subia 0,87%, cotado a R$ 5,213, enquanto o Ibovespa caía 0,89%, aos 112.265 pontos. Na máxima do dia, a moeda americana chegou a atingir R$ 5,22.

Para Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank, os dados fortes de emprego nos EUA sinalizam que ainda há desafios contra a inflação nos Estados Unidos, o que deve se refletir nos juros americanos.

“Os números indicam que o mercado de trabalho segue aquecido, o que traz desafios para os esforços do Fed de trazer a inflação para a meta. Apesar do ajuste intenso de juros implementado até agora, a inflação americana continua preocupando, e o principal motivo de pressão é justamente o mercado de trabalho, que leva a reajuste dos salários e eleva custos”, diz Salles.

A inflação americana acumula alta de 3,7% até agosto, bem acima da meta de 2% perseguida pelo Fed. Além disso, o índice deve ser pressionado em setembro pela recente alta do petróleo, que atingiu seus maiores níveis em mais de um ano no mês passado.

Já José Cláudio Securato, economista e presidente-executivo da Saint Paul Escola de Negócios, aponta que a alta de juros nos EUA também pode interferir nas decisões de juros no Brasil, pois causam um cenário de desvalorização do real, saída de recursos, queda da Bolsa e alta nos juros futuros.

“Tudo isso coloca um pouco de pressão nas próximas decisões do Copom sobre ciclo de queda da taxa Selic. O quase consenso sobre queda já encontra questionadores, argumentando que o [cenário] fiscal não melhorou e que as taxas de juros nos EUA estão alta demais”, diz Securato.

Na esteira dos dados dos Estados Unidos, o rendimento dos títulos americanos de dez anos, referência global para decisões de investimento, tinha forte alta de 0,14 ponto percentual, indo para 4,857%, disparando em direção ao maior patamar desde 2007 atingido na quarta (4), de 4,884%.

Eduardo Moutinho, analista de mercado da Ebury, afirma que a divulgação do payroll americano impulsionou os rendimentos dos títulos americanos, e as moedas de alto rendimento, como o real brasileiro, estão entre as mais impactadas pelo movimento.

Ele diz acreditar, no entanto, que o banco central americano não deve realizar uma nova alta nos juros neste ano.

“O Fed provavelmente já encerrou seu ciclo de aperto monetário [alta de juros], e os dados de emprego, os mais defasados da economia, não devem mudar essa visão. As taxas de juros subindo devem continuar apoiando o dólar, embora uma pausa nas próximas reuniões tenha o potencial de reverter essa narrativa”, diz Moutinho.

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