Dólar estende ganhos e bate nos R$ 5,27 com temores sobre fiscal e Fed

Mudança de meta no Brasil e perspectiva de juros altos por mais tempo nos Estados Unidos pesam no câmbio

Marcelo AzevedoLuana Franzão SÃO PAULO

dólar registrava sua quinta sessão consecutiva de ganhos e chegou a superar os R$ 5,27 na manhã desta terça-feira (16), ainda sob efeito de temores do mercado sobre a trajetória fiscal do Brasil, o adiamento das apostas de cortes de juros nos EUA e o aumento das tensões no Oriente Médio.

O cenário também é negativo para a Bolsa brasileira, que operava em queda, abaixo dos 125 mil pontos, pressionada principalmente por recuos de Petrobras e Vale.

Às 10h55, o dólar subia 1,55%, cotado a R$ 5,263, enquanto o Ibovespa caía 1,05%, aos 124.009 pontos.

As duas maiores empresas do Ibovespa caíam desestimuladas pelas negociações de commodities no exterior. O preço futuro dos barris do petróleo Brent recuava, afetando negativamente os papéis da Petrobras, e o valor do minério de ferro caiu durante as negociações em Dalian, exercendo influência sobre as ações ordinárias da Vale.

Operador observa tela com flutuações do mercado financeiro na B3
Operador observa tela com flutuações do mercado financeiro na B3 – Amanda Perobelli/Reuters

Nesta segunda, investidores aguardam um pronunciamento do presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Jerome Powell, previsto para o início da tarde, buscando sinalizações sobre o futuro da política de juros americana.

Quanto menos o Fed cortar os juros diante de uma economia resiliente, melhor para o dólar, que se torna mais atraente para investidores estrangeiros quando os rendimentos oferecidos pelo mercado norte-americano ficam mais altos.

A escalada das tensões no Oriente Médio colabora para o ambiente de aversão ao risco, com investidores recorrendo a títulos de maior percepção de segurança. O cenário pressiona a curva de juros americana, e os títulos com vencimento em dez anos apresentam alta: os chamados “treasuries” iam de 4,60% para 4,67% no fim da manhã.

Nos Estados Unidos, os principais índices começaram o dia com piora no humor e oscilam próximo da estabilidade.

Investidores também repercutem a divulgação do PIB (Produto Interno Bruto) da China, que veio acima do esperado.

No cenário doméstico, as discussões sobre o arcabouço fiscal permanecem no radar, após o governo ter diminuído a meta de resultado primário em 2025 para zero.

A meta anterior, de superávit de 0,5%, era vista com ceticismo pelo mercado. A mudança do objetivo, no entanto, diminuiu a confiança de investidores na nova regra fiscal, como aponta Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos.

“Isso mostra que o desenho do projeto fiscal central do governo foi feito com metas que ele próprio já está sabendo que não vai bater. Tira um pouco da credibilidade, porque eles precisam mudar a meta para não sofrer as sanções que o próprio desenho do projeto do arcabouço fiscal estaria impondo”, afirma a economista.

“Do ponto de vista prático, [a mudança da meta fiscal] para o mercado é ruim. O mercado vê uma falta de confiança do governo na sua própria capacidade de gestão fiscal”, disse Cristian Pelizza, economista-chefe da Nippur Finance. Ele lembra, no entanto, que boa parte dos investidores não considerava as metas anteriores realistas.

Ainda nesta manhã, o boletim Focus, do Banco Central, mostrou que economistas aumentaram sua previsão para a Selic pela primeira desde o fim de 2023. Agora, a previsão para a taxa no fim do ano é de 9,13%, ante 9% em boletins anteriores.

Na segunda (15), o dólar registrou alta de 1,19% e encerrou o dia cotado a R$ 5,182, seu maior valor desde março de 2023.

Preocupações sobre o aquecimento da economia americana permanecem como principal catalisador, mas a divisa acelerou ganhos e chegou a bater os R$ 5,214 na máxima da sessão após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ter confirmado a mudança da meta fiscal de 2025.

A aceleração, no entanto, também coincidiu com forte piora no humor externo, com os principais índices de Wall Street virando para o negativo.

Na Bolsa brasileira, o Ibovespa começou o dia oscilando, mas engatou queda no início da tarde.

No fim do dia o principal índice da Bolsa teve queda de 0,48% e terminou o dia aos 125.333 pontos, em seu menor patamar do ano.

Com Reuters

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