Crise dos juros globais pode afastar investidores do Brasil
Nos Estados Unidos, as taxas dos títulos de 10 anos de prazo do Tesouro voltaram a superar o patamar de 4% na semana passada, aproximando-se do maior pico recente (em outubro do ano passado) de 4,34%, uma taxa que não se observava desde 2007, início da grande crise financeira mundial.
O título do Tesouro americano de 10 anos é a referência do custo de oportunidade de investimento e é considerado livre de risco. Quanto maior for a taxa paga por ele, menos incentivo terão os investidores globais em comprar qualquer outro ativo mundo afora. E, ontem, a taxa paga pelo papel de dois anos de prazo subiu mais ainda e superou o patamar de 5%, ameaçando atrair até os fiéis investidores nas Bolsas americanas. Quem vai querer correr risco em qualquer outro investimento se há uma aplicação segura rendendo 5% em dólar?
Na Europa, os juros pagos pelo título de 10 anos do governo alemão atingiram 2,77% na semana passada, maior nível desde 2011, durante a crise da dívida da Zona do Euro. Já o papel de 2 anos, que é o mais sensível às decisões da política monetária de curto prazo, bateu em 3,209%, taxa que não se via desde 2008. Na Inglaterra, o juro pago pelo papel de 10 anos do governo subiu 0,8 ponto porcentual, para quase 3,90%, apenas nas últimas quatro semanas.
Os recentes indicadores de atividade e de inflação vieram bem mais fortes do que os analistas previam, forçando o mercado a projetar um ciclo de alta de juros mais duro e prolongado pelos principais bancos centrais do mundo. Primeiro, foi o número de criação de empregos nos EUA em janeiro (517 mil, superando em duas vezes e meia as projeções), mostrando que um mercado de trabalho mais apertado tornará mais difícil controlar os preços na economia americana. Recentemente, o núcleo da inflação (que exclui os preços voláteis, como energia e alimentos) na Zona do Euro voltou a acelerar em fevereiro.
Se os próximos dados surpreenderem para cima de novo, os juros dos títulos públicos de países desenvolvidos poderão atingir níveis críticos, levando os investidores a fugir do que consideram risco. E o Brasil, ainda sem âncora fiscal crível e com a monetária sob ataque pelo presidente Lula, está no topo da lista.
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