Copom eleva impacto do El Niño sobre inflação de alimentos em suas projeções
Colegiado do BC reduziu na última quarta (13) a taxa básica de juros a 11,75% ao ano
O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central disse ter elevado um pouco o impacto do fenômeno climático El Niño sobre a inflação de alimentos em suas projeções para o cenário à frente, conforme ata publicada nesta terça-feira (19).
No último encontro, em novembro, o colegiado do BC tinha mantido a hipótese de considerar um impacto relativamente pequeno do El Niño, mas alguns membros alertaram para os efeitos sobre a inflação em caso de um fenômeno mais extremo.
De acordo com boletim da OMM (Organização Meteorológica Mundial) publicado em novembro, há 90% de probabilidade de que o fenômeno cíclico do Pacífico, associado a um aumento das temperaturas mundiais, persista até abril de 2024.
No Brasil, o El Niño deve afetar os regimes de chuva em regiões do país ao menos até janeiro, segundo previsão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. A precipitação deve continuar intensa no Sul e reduzida no Norte.
O colegiado do BC disse também ver avanço no combate à inflação, mas ressaltou que há longo caminho a percorrer, reforçando a necessidade de uma flexibilização de juros mais cautelosa.
“O Comitê avalia que houve um progresso desinflacionário relevante, em linha com o antecipado pelo comitê, mas ainda há um caminho longo a percorrer para a ancoragem das expectativas [convergência em direção aos alvos perseguidos pelo BC] e o retorno da inflação à meta, o que exige serenidade e moderação na condução da política monetária”, escreveu.
O comitê também se comprometeu a manter o mesmo ritmo de queda da Selic nas próximas reuniões, ou seja, pelo menos nos dois primeiros encontros de 2024, agendados para os dias 30 e 31 de janeiro e 19 e 20 de março.
“Tal ritmo conjuga, de um lado, o firme compromisso com a reancoragem de expectativas [em direção às metas] e a dinâmica desinflacionária e, de outro, o ajuste no nível de aperto monetário em termos reais diante da dinâmica mais benigna [favorável] da inflação antecipada nas projeções do cenário de referência.”
No próximo ano, a meta de inflação definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).
De acordo com o Copom, o processo de desinflação “não divergiu significativamente” do esperado e houve “alguma surpresa” positiva com relação à variação de preços de serviços.
No debate entre as razões para esse resultado, foram citados a normalização de preços, o impacto inercial da inflação, o comportamento dos salários, o movimento mais acentuado dos choques de commodities e alimentação e os impactos defasados da política monetária.
“A evolução prospectiva do hiato do produto [margem que a atividade tem para crescer até atingir sua capacidade máxima] e o comportamento do mercado de trabalho foram considerados muito relevantes para determinar a velocidade com que a inflação atingirá a meta.”
Quanto à atividade econômica, o Copom destacou a materialização da desaceleração do PIB (Produto Interno Bruto) em linha com o cenário esperado para o segundo semestre.
“A resiliência do consumo das famílias, que novamente surpreendeu positivamente, pode estar relacionada a um aumento da renda bruta das famílias, em função da expansão do mercado de trabalho, de benefícios sociais e de ganhos de renda relacionados à desinflação em importantes segmentos da cesta de consumo”, disse.
“Por outro lado, a formação bruta em capital fixo, que é mais sensível às condições financeiras e às perspectivas e incertezas futuras, segue em queda, após uma forte elevação ao longo do período da pandemia”, acrescentou.
Segundo a ata, alguns membros avaliaram que a persistência de maior resiliência do consumo e de queda no investimento poderia provocar, no médio prazo, um excesso de demanda em relação à oferta, com potenciais impactos sobre os preços.
O Copom ressaltou que a contratação no emprego formal se mantém em níveis elevados, em linha com um mercado de trabalho bastante dinâmico.
“Observou-se uma ampliação dos ganhos reais de rendimento no período mais recente, mas o comitê manteve a avaliação de que esse desenvolvimento pode refletir questões temporárias e segue avaliando que não há evidência de pressões salariais elevadas nas negociações trabalhistas”, disse.
No trimestre até outubro, a taxa de desemprego do Brasil recuou a 7,6% e o contingente da população ocupada com algum tipo de trabalho foi estimado em 100,2 milhões, de acordo com o IBGE.
O Copom prometeu seguir monitorando com bastante atenção as variáveis do mercado de trabalho, “em particular com um acompanhamento minucioso da dinâmica de rendimentos reais.”
O colegiado do BC disse também ter observado maior desaceleração na concessão de crédito à pessoa jurídica em conjunto com maior recomposição de crédito via mercado de capitais.
“Em que pesem as condições monetárias restritivas, enfatizou-se que já se observa a transmissão do ciclo de política monetária esperada pelo mercado para as taxas correntes de novas concessões, levando, em particular, a um maior dinamismo no mercado de capitais no período recente.”
Destacou ainda que a incorporação de cenários, como a dinâmica fiscal ou o cenário externo, “se dá por meio de seus impactos na dinâmica prospectiva de inflação, sem relação mecânica com a determinação da taxa de juros.”
O Copom reforçou o alerta divulgado anteriormente de que “o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia [que não estimula nem desestimula a atividade econômica]”.
Isso, segundo o comitê, resultaria em impacto negativo sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo do processo de desinflação sobre a atividade econômica.
Com relação ao cenário internacional, vários membros do Copom viram aumento de chance de “pouso suave” nos Estados Unidos, uma vez que os dados mostraram moderação de crescimento e menor pressão sobre a inflação, sobretudo em bens industriais e commodities energéticas (como petróleo).
Pensando nos fatores de risco para a continuidade do processo de desinflação, o colegiado do BC contrapôs a melhora na inflação corrente a desafios como contexto geopolítico incerto, mercados de trabalho aquecidos e o hiato do produto [diferença entre o PIB observado e o PIB potencial] apertado em várias economias avançadas.
“O comitê manteve a avaliação, diante da volatilidade recente e da incerteza à frente no cenário internacional, de que é apropriado adotar uma postura de cautela, principalmente em países emergentes”, disse.
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