Como guerra afeta inflação e juros, startup de compra coletiva capta R$ 127 mi e o que importa no mercado

Artur Búrigo

Esta é a edição da newsletter FolhaMercado desta quarta-feira (9). Quer recebê-la de segunda a sexta, às 7h, no seu email? Inscreva-se abaixo.

GUERRA DEVE GERAR MAIS INFLAÇÃO E JUROS

As consequências da guerra na Ucrânia para a economia brasileira, com impacto mais significativo sobre combustíveis e alimentos, motivam um reajuste para cima nas expectativas do mercado para inflação e juros no país.

Entenda: mesmo antes do conflito, o mercado via uma inflação superando os 5% em 2022, estourando o teto da meta para o ano. Agora, os analistas estão ajustando suas estimativas, e há instituições, como a XP, projetando o IPCA acima de 6% ao fim do ano.

Mais inflação, mais juros: se em fevereiro o mercado apostava que a Selic subiria até 12% ao ano e começaria a recuar em dezembro, hoje economistas preveem que a taxa básica deve chegar a 12,75% ao ano, com o primeiro corte acontecendo só em 2023.

Banqueiros ouvidos pela Folha contam com um cenário de retração no crédito, inflação elevada, queda de renda, menos consumo e crescimento baixo.

Vai pesar no bolso: enquanto alas do governo travam uma queda de braço sobre sobre qual medida adotar para evitar a explosão nos preços dos combustíveis, a alta dos preços dos produtos agrícolas deve ser sentida em breve pelos consumidores, aponta a coluna Vaivém das Commodities.

​PETRÓLEO RUSSO DIVIDE EUA E UE

O presidente americano Joe Biden anunciou nesta terça (8) a proibição das importações de petróleo e de gás russo para os EUA. Diferentemente das outras sanções, desta vez a União Europeia (UE) não foi pelo mesmo caminho.

Vladimir Putin, presidente russo, reagiu rápido e anunciou que vai proibir ou limitar o comércio de commodities russas com outros países até o fim deste ano. A lista de produtos e nações que serão afetados ainda não foi divulgada.

O que explica: Biden estava sendo pressionado pelo Congresso americano para banir as importações energéticas russas, que mal fazem cócegas ao consumo interno dos EUA. Para os países da Zona do Euro, porém, a história é diferente.

Em números: Para a UE, Moscou fornece 40% do gás do bloco e um quarto de seu petróleo bruto, enquanto apenas 8% das exportações russas de petróleo vão para os EUA.

  • O Reino Unido, que também encerrará até o final do ano a importação de energia russa, é destino de 2% da commodity embarcada pelo país liderado por Putin.

Análise: decisão dos EUA leva os preços do petróleo para um novo patamar, mas não causa colapso, escreve o colunista Vinicius Torres Freire.

Repercussão nos mercados: o anúncio de Biden levou o barril do tipo Brent, referência internacional, a atingir o patamar de US$ 130 (R$ 662), se aproximando do topo histórico de 2008, de US$ 146 (R$ 748).

As ações da Petrobras, que haviam desabado 7% na véspera em reação à sinalização do governo em interferir na política de preços da companhia, recuperaram parte das perdas e subiram 2%.

Outros reflexos da disparada das cotações do petróleo:

RUSSOS SEM MC E COCA GELADA

Grandes ícones do capitalismo ocidental engrossaram nesta terça a lista de empresas que suspenderam suas operações na Rússia.

McDonald’s, Coca-Cola e Starbucks, entre outras, informaram que não devem operar no país por tempo indeterminado.

Por que importa: as decisões acertam em cheio a classe média russa, mas o caso do McDonald’s é ainda mais simbólico.

  • No início de 1990, menos de três meses após a queda do Muro de Berlim, a franquia de fast food abriu sua primeira loja em Moscou, no que foi um marco da derrocada do império soviético, que chegaria ao fim no ano seguinte.
  • Na inauguração da loja, os moscovitas formaram filas gigantescas para visitar o restaurante; estima-se que cerca de 30 mil pessoas tenham entrado no McDonald’s só naquele dia.

Nem Coca, nem Pepsi: a PepsiCo, que tem na Rússia seu terceiro maior mercado consumidor, anunciou na segunda que também deixaria de operar no país.

STARTUP DE COMPRA ENTRE VIZINHOS RECEBE APORTE

A Trela (ex-Zapt), startup de compras coletivas de alimentos entre vizinhos, anunciou nesta terça que recebeu um aporte de US$ 25 milhões (R$ 127, 2 milhões).

O investimento foi liderado pelo fundo do SoftBank focado na América Latina, e também teve participação de Kaszek, General Catalyst e Y Combinator, que já tinham participação na startup.

A empresa: fundada em 2020 com o nome de Zapt, a plataforma permite que vizinhos –geralmente de um mesmo condomínio– façam encomendas coletivas direto com os produtores pelo WhatsApp.

  • Por cortar intermediários, a startup afirma que os preços podem ser de 20% a 60% menores do que os encontrados em varejistas tradicionais.
  • O foco dos alimentos comercializados pela plataforma é em produtos “premium”, de maior valor agregado. Como a compra é feita por vizinhos, o frete é grátis.

Por que importa: a Trela é mais uma empresa brasileira que aposta no formato de compras sociais, modelo que tem a chinesa Pinduoduo como referência global.

Outra brasileira desse ramo é a Facily, que se tornou um unicórnio (startups avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais) no fim do ano passado. Com foco no público de baixa renda, ela também aposta no corte de custos com a compra coletiva de produtos.

Com uma explosão de pedidos na pandemia, a empresa acumulou milhares de queixas no Procon por atraso nas entregas, e em novembro firmou um termo de compromisso com o órgão para indenizar consumidores e diminuir o número de reclamações.

0 respostas

Deixe uma resposta

Want to join the discussion?
Feel free to contribute!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *