Bolsa cai e dólar sobe, com foco em Copom dividido sobre ritmo de corte da Selic

BC cortou 0,25 p.p. na taxa básica de juros, em decisão que pode revelar viés político na autarquia

SÃO PAULO

A Bolsa brasileira operava em queda firme nesta quinta-feira (9), com investidores repercutindo a decisão dividida pela desaceleração do ritmo de corte da taxa Selic.

Às 15h21, o Ibovespa recuava 1,12%, a 128.033,94 pontos. O dólar, no mesmo horário, saltava 1,24%, cotado a R$ 5,154 na venda.

O Banco Central decidiu cortar a Selic em 0,25 ponto percentual, a 10,50% ao ano, interrompendo uma sequência de seis reduções seguidas de 0,50 ponto percentual e abandonando a indicação sobre o futuro dos juros básicos.

O corte, porém, levantou preocupações sobre mudanças no perfil do colegiado, com o Copom (Comitê de Política Monetária) também destacando em seu comunicado cenários internacional e doméstico incertos.

REUTERS

Segundo participantes do mercado, o que mais pesou foi a divisão na decisão, que, para muitos, revela viés político na autarquia.

De acordo com o comunicado do Copom, a redução de 0,25 ponto foi apoiada pelo presidente Roberto Campos Neto e os diretores Carolina Barros, Diogo Guillen, Otávio Damaso e Renato Gomes. Indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Ailton de Aquino, Gabriel Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Teixeira votaram por corte maior, de 0,50 ponto percentual.

Pesa ainda a decisão de Galípolo, antes número 2 de Fernando Haddad, ministro da Fazenda, e hoje apontado como o favorito para ser o próximo presidente do BC. No final deste ano, Lula deverá indicar um novo presidente e mais dois diretores ao BC, conforme os mandatos de Campos Neto e dos diretores Carolina Barros e Otávio Damaso se aproximam do fim.

Com Galípolo de um lado e Campos Neto de outro, a análise é que a votação pode ter sinalizado “como será a política monetária do próximo mandato”, avalia José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos.

Para Alfredo Menezes, sócio da gestora Armor Capital, o fato de todos os indicados pelo governo terem votado por maior flexibilização monetária ainda “pode passar uma percepção de que o novo BC em janeiro será muito influenciado pelo Poder Executivo”.

Sobre os próximos passos, o Copom diz que “a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”. Acrescenta, ainda, que a política monetária deve se manter contracionista até que se consolide não apenas o processo de queda da inflação, mas também “a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”.

O comunicado teve um tom “hawkish”, avalia Marcelo Bolzan, sócio da The Hill Capital. A palavra é derivada de “hawk”, ou “falcão”, em inglês, e significa um comportamento agressivo, de ataque.

“Além disso, comentam sobre a necessidade de maior cautela, já que o ambiente externo mostra-se mais adverso, em função da incerteza elevada sobre o início da flexibilização de política monetária nos EUA.”

Na cena corporativa, boa parte dos papéis operava no negativo, com uma nova bateria de balanços corporativos também de pano de fundo. Vale e Petrobras, as empresas de maior peso no Ibovespa, avançavam, ajudando a conter a pressão sobre o índice.

A mineradora tinha ganhos de 1,13%, enquanto os papéis preferenciais e ordinários da petroleira subiam, respectivamente, 0,63% e 1,62%.

Rede D’Or subia 2,57%, após anunciar que irá se unir a Bradesco Seguros para criar uma nova empresa de hospitais.

Entre as maiores quedas, Soma perdia 4,43%, após divulgar perdas de 81% no lucro do 1º trimestre ante um ano antes. Arezzo, que deve se fundir ao grupo de moda, caía na esteira, a 4,83%.

Ultrapar recuava 7,72%, apesar de ter avançado 64,6% no lucro anual líquido —um resultado que veio abaixo do esperado, de acordo com análise do Citi.

Na quarta-feira, o dólar fechou em alta de 0,46%, cotado a R$ 5,090, interrompendo a sequência de sessões estáveis iniciada na segunda-feira.

O Ibovespa avançou 0,19%, a 129.454,94 pontos, com investidores de olho em uma bateria de balanços corporativos e no anúncio do Banco Central sobre o patamar da taxa Selic.

O pregão demonstrou cautela dos investidores quanto ao tamanho do corte, com apostas divididas entre 0,5 p.p. e 0,25 p.p –refletida, inclusive, nos juros futuros.

A taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 estava em 10,215%, ante 10,212% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,46%, ante 10,419% do ajuste anterior.

“Tivemos uma piora do cenário internacional com o Fed [banco central dos EUA] decidindo manter os juros altos por lá, após dados de inflação acima do esperado. Aqui no Brasil também tivemos dados mostrando uma atividade econômica aquecida, além de preocupações com o fiscal, com o governo gastando mais que o esperado”, disse Rodrigo Cohen, analista de investimentos e embaixador da XP Investimentos.

Na cena empresarial, balanços trimestrais —como de BRF, GPA, Ambev, Carrefour Brasil e Telefônica Brasil (Vivo)— também influenciaram no sentimento dos investidores.

Entre as baixas, Petz perdeu 6,02%, seguida por GPA (5,88%), Telefônica (5,63%) e Ambev (3,41%). Os balanços das empresas decepcionaram acionistas. De grande influência no Ibovespa, Vale perdeu 0,91%, em linha com os futuros do minério de ferro na China.

Do lado positivo, Marfrig avançou 11,18%, seguida por BRF, com 11,17%. Os papéis preferenciais da Petrobras subiram 1,53%, enquanto os ordinários avançavam 1,06%, ajudando a aliviar a pressão sobre o Ibovespa e reduzindo perdas vistas mais cedo —pela manhã, o Ibovespa chegou à mínima de 128.048,04 pontos.

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