Boicote a hipotecas obriga cidade chinesa a criar fundo de resgate

Financial Times

Compradores estão revoltados com atrasos em obras; inadimplência preocupa bancos

Cheng Leng – HONG KONG | FINANCIAL TIMES

A cidade chinesa de Zhengzhou está criando um fundo de resgate a incorporadores de imóveis, diante da adesão cada vez mais alta de mutuários a um boicote nacional ao pagamento de hipotecas sobre casas ainda não entregues. O pacote de resgate, um dos primeiros a lidar com a revolta cada vez mais forte dos mutuários de crédito imobiliário na China, será estabelecido conjuntamente pela administradora de investimentos Henan Asset Management e pelo grupo imobiliário Zhengzhou Real Estate Group, de acordo com um comunicado da Henan Asset Management.

As duas organizações contam com o apoio de instituições de financiamento do governo local. As medidas de resgate ao setor de imóveis vêm sendo acompanhadas de perto pelos investidores, depois que centenas de milhares de compradores de casas divulgaram cartas abertas nas quais ameaçam suspender seus pagamentos, o que agrava a crise do setor imobiliário que vem prejudicando o crescimento econômico da China. As pré-vendas, sob as quais compradores fazem uma hipoteca a fim de pagar por um imóvel cuja construção ainda não foi concluída, são uma prática generalizada na China.

A raiva dos compradores que já pagaram por imóveis que os incorporadores não conseguiram entregar devido a dificuldades financeiras está crescendo. O boicote se estendeu a mais de 300 projetos imobiliários na China, até domingo, ante 200 na semana passada, de acordo com um documento distribuído via “crowdsource” e intitulado “WeNeedHome”. O grupo imobiliário Evergrande, o mais endividado do planeta, e outras incorporadoras como a Sunshine City, Sunac e Kaisa estão entre as empresas atingidas pelo boicote. O protesto causou preocupações entre os bancos quanto à possível inadimplência de seus credores.

Na semana passada, as autoridades regulatórias das finanças chinesas agiram rapidamente para conter o pânico generalizado com relação à saúde financeira do sistema, pedindo aos bancos que revelassem seu grau de exposição a hipotecas. Dezesseis bancos de capital aberto informaram que uma proporção pequena de seus empréstimos estava vulnerável a danos. O fundo municipal de resgate de Zhengzhou tem por objetivo “revitalizar projetos imobiliários problemáticos e resgatar incorporadores que estejam em dificuldade”, anunciou a Henan Asset Management, sem revelar o valor do fundo. Zhengzhou, a capital da província chinesa de Henan, é a cidade mais exposta à revolta dos mutuários, entre as 91 cidades chinesas em que o movimento está ativo, de acordo com dados compilados por pesquisadores da E-House China Enterprise Holdings, uma empresa de serviços imobiliários.

“Cremos que uma indicação mais forte de apoio por parte do governo central será necessária, o que incluiria prover liquidez para certos projetos”, disse Rory Green, economista chefe da consultoria TS Lombard para o mercado chinês.

Wang Qi, presidente-executivo da administradora de investimentos MegaTrust, em Hong Kong, disse que a expectativa é de que Pequim tente controlar o pânico dos compradores de imóveis.

“O setor de imóveis precisa do máximo apoio, a esta altura”, disse Wang. “Haverá mais regulamentação a fim de proteger os interesses dos compradores de imóveis, é claro. A China não pode correr o risco de sofrer um abalo na confiança de seus consumidores, em um momento como o atual”.

Tradução de Paulo Migliacci

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