Esforço fiscal terá de ser maior para Brasil atingir grau de investimento, dizem economistas

Para analistas, nível de crescimento da economia garantiu decisão de agência de elevar nota de crédito brasileira nesta terça (1º)

Paulo Ricardo MartinsSão Paulo

Economistas dizem que o momento macroeconômico vivido pelo Brasil, com inflação sob controle e crescimento de quase 3% no último ano, foram fatores que levaram a agência de classificação de risco Moody’s Ratings a elevar a nota de crédito do país, que está agora a um passo do grau de investimento. No entanto, o governo terá de fazer um esforço fiscal maior para que o Brasil alcance o próximo patamar, afirmam.

Por enquanto, o país permanece no nível especulativo, agora com a nota “Ba1”. Em relatório, a Moody’s disse que a credibilidade do cenário fiscal do Brasil ainda é moderada.

Fachada de prédio; homem anda na calçada
Sede da Moody’s em Nova York – Andrew Kelly/Reuters

Grau de investimento é uma condição atribuída por agências internacionais de classificação de risco a papéis, empresas ou países para definir que se trata de um investimento seguro —ou seja, com baixo risco de calote.

As notas de crédito também são importantes para os fundos: muitos deles são impedidos de aplicar em papéis sem grau de investimento.

Na visão de Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, o cenário da economia brasileira é relativamente bom, mas a questão fiscal é “a peça que impede o país de avançar mais”. Ele cita um déficit fiscal forte para este e os próximos anos e um aumento da dívida.

Segundo dados oficiais divulgados na proposta de Orçamento de 2025 e no quarto relatório de avaliação de receitas e despesas do Orçamento deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve encerrar seu mandato com déficit fiscal efetivo nos quatro anos da gestão.

Vale afirma que o arcabouço fiscal, que substituiu o teto de gastos, é uma medida paliativa. De acordo com o economista, para virar a nota de crédito e alcançar o grau de investimento, este ou o próximo governo terão de fazer um ajuste fiscal mais duradouro e importante, com medidas como desvinculação do salário mínimo da Previdência Social, medida descartada pelo chefe do Executivo neste ano.

“A gente vai precisar voltar nessa questão em 2027. Esse salto adicional [da nota de crédito] vai depender de um esforço fiscal muito maior do governo”, diz Vale.

Na visão de Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank, para elevar a nota de crédito para o grau de investimento —nível considerado seguro e com baixos riscos de calote para quem investe em títulos de dívida, o Brasil deverá estabilizar ou reverter a dívida pública, além de manter o ritmo de crescimento e continuar com a inflação controlada.

Salles diz ser importante avançar na reforma administrativa e melhorar o grau de abertura da economia, com maior fluxo comercial entre o Brasil e outros países.

Paulo Gala, economista-chefe do banco Master, afirma que o upgrade do Brasil pela Moody’s é razoável e que o país está bem se comparado a pares internacionais como Argentina, México e Índia. Ele chama atenção, no entanto, para o resultado das despesas públicas.

O saldo das contas do governo central no primeiro semestre foi um déficit de R$ 68,7 bilhões, o pior resultado para o período desde 2020, quando a pandemia levou a um rombo de R$ 544,1 bilhões nos primeiros seis meses do ano.

Com o crescimento econômico observado no país, no entanto, tudo fica mais fácil, diz Gala. Ele acredita que o Brasil não está longe do grau de investimento, o que deve acontecer nos próximos dois anos, segundo o analista.

“A gente não está muito longe disso. Basta honrar o arcabouço fiscal e apresentar alguns controles de despesa.”

Felipe Miranda, da Empiricus, também chama atenção para a questão fiscal. Além disso, ele diz que as agências de classificação de risco não têm mais a mesma credibilidade e impacto sobre o mercado.

“Eu não acho que isso representa uma mudança de paradigma importante em relação ao Brasil. Ao contrário, precisamos de uma medida crível e robusta de atenção sobre os gastos fiscais brasileiros. É uma notícia boa, mas com impacto marginal”, afirma.

Em nota, o banco Fator citou a preocupação da Moody’s com a credibilidade fiscal. “Serve como suporte à agenda de Haddad [Fazenda]. Lula, que visitou a agência em NY outro dia, deve estar feliz”, escreveu o banco.

Segundo o Fator, a decisão da agência de elevar a nota de crédito deve ser vista como um pouco precipitada por analistas.

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