Rússia x Ucrânia: quais as chances de conflito se transformar em 3ª Guerra Mundial?

Situação é crítica no Leste Europeu, mas crise em maior escala depende de ataque direto a Estado-membro da Otan

Frank Gardner – BBC NEWS BRASIL – crédito da imagem EPA via BBC News Brasil

Vamos direto ao assunto: estamos testemunhando o prelúdio da 3ª Guerra Mundial?

Convenhamos, isso é o que muitas pessoas estão perguntando e pensando diante das recentes ações do Kremlin contra a Ucrânia, que desencadearam uma enxurrada de denúncias e sanções por parte do Ocidente.

A resposta é: não. Por pior que seja a situação na fronteira entre Rússia e Ucrânia neste momento, não se imagina um confronto militar direto entre a aliança militar Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e a Rússia.

Aliás, enquanto os EUA e o Reino Unido observavam a Rússia montar uma força capaz de invadir a Ucrânia, eles rapidamente retiraram seu pequeno número de conselheiros militares.

“É uma guerra mundial quando americanos e russos começarem a atirar uns nos outros”, disse o presidente dos EUA, Joe Biden, no início deste mês, prometendo que não enviaria tropas americanas para a Ucrânia sob nenhuma circunstância.

Mas líderes ocidentais ainda temem que a Rússia possa estar pronta para realizar uma invasão da Ucrânia em larga escala.

O quão preocupado se deve estar ainda depende de vários fatores —quem você é, onde você está e o que a Rússia fará em seguida.

Se você é um soldado ucraniano da linha de frente no leste da Ucrânia, claramente a situação é extremamente perigosa. E para milhões de ucranianos, o medo de como a crise afetará seus cotidianos está sempre presente.

Apenas o presidente Putin e seu círculo íntimo de confiança sabem o quão longe ele pretende levar essa crise. Enquanto a força da Rússia permanecer concentrada nas fronteiras, mesmo a movimentada capital ucraniana, Kiev, e outras cidades não estarão a salvo de ataques.

Mas a linha vermelha para a Otan e o Ocidente é se a Rússia ameaçar algum Estado-membro do grupo. De acordo com o Artigo 5 da Otan, a aliança militar ocidental é obrigada a defender qualquer Estado-membro que seja atacado.

A Ucrânia não é membro da Otan, embora tenha dito que quer se juntar à aliança militar —algo que Putin está determinado a impedir. Países do Leste Europeu como Estônia, Letônia, Lituânia ou Polônia —que já fizeram parte da órbita de Moscou nos tempos soviéticos— são todos membros da Otan.

Esses governos estão claramente nervosos com o fato de que as forças russas podem não parar na Ucrânia e usar algum pretexto de “ajudar” minorias étnicas russas no Báltico para continuar invadindo outros países. Por isso, a Otan recentemente enviou reforços a seus membros do Leste Europeu.

Mas quão preocupado você deve estar? Enquanto não houver conflito direto entre a Rússia e a Otan, não há razão para que essa crise, por pior que seja, vire uma guerra mundial em grande escala.

Não vamos esquecer que a Rússia e os EUA têm, entre eles, mais de 8 mil ogivas nucleares, então os riscos são estratosféricamente altos. A velha máxima da Guerra Fria de “destruição mutuamente assegurada” (MAD, em inglês) ainda se aplica.

“Putin não está prestes a atacar a Otan. Ele só quer transformar a Ucrânia em um Estado vassalo como Belarus”, disse uma importante fonte militar britânica na terça-feira (22).

Mas o imprevisível aqui é o estado de espírito de Putin. Muitas vezes descrito como friamente calculista, como o enxadrista e lutador de judô que é, seu discurso na segunda-feira (21) parecia mais o de um ditador raivoso do que o de um estrategista astuto.

Chamando a Otan de “perversa”, ele disse com todas as letras que a Ucrânia não tinha o direito de existir como uma nação soberana independente da Rússia. Isso é preocupante.

O Reino Unido não é o único país a punir a Rússia com sanções —os EUA foram mais longe e a Alemanha, por exemplo, adiou a aprovação do enorme gasoduto Nord Stream 2 da Rússia. Mas o Reino Unido foi pioneiro nas sanções.

A Rússia certamente retaliará de alguma forma. As empresas ocidentais na Rússia provavelmente sofrerão. Mas tudo pode piorar bem mais, se Putin assim quiser.

O problema agora é que, após anos de declínio das relações com Moscou, inclusive com o envenenamento de dissidentes russos em solo britânico, a confiança mútua entre a Rússia e o Ocidente é quase zero. E esse é um cenário perigoso em meio à crise em curso na Ucrânia.

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