Real objetivo por trás do troca-troca na Petrobras é entregar o comando da estatal ao Centrão

Bolsonaro finge que está buscando uma solução técnica. Falou até em privatizar a Petrobras. Papo eleitoreiro: se a estatal não colabora, melhor me livrar dela. Todo mundo sabe que não é para valer

O Estado de S.Paulo – Elena Landeu* – 27 de maio de 2022 | 04h00 – Crédito da foto: Paulo Whitaker/Reuters – 01/07/2017

O que quer Bolsonaro com esse troca-troca na Petrobras? Certamente, não é aliviar o peso dos derivados no orçamento dos brasileiros. Fosse esse o objetivo, já teria criado políticas específicas, como vários países do mundo. Ele trata do assunto como se a responsabilidade de resolver não fosse dele. O inimigo do povo é a malvada Petrobras e os governadores. Já vimos esse filme no passado. Mais fácil lavar as mãos e buscar um inimigo imaginário do que resolver.

Já deu tempo para desenhar uma política temporária de subsídios, afinal, a guerra da Ucrânia é grave o suficiente para apelar para o uso de créditos extraordinários. Ao contrário do que ele pretende – subsidiar todo mundo, quem precisa e quem não precisa —, é possível focalizar esse apoio do governo para o gás de cozinha e o diesel. Poderia apoiar Estados e municípios em políticas que reduzissem o custo do transporte público, em vez de sua “guerra santa” contra ICMS. Há muitas opções. Poderia até copiar o que Temer fez. Mas ele escolheu a pior: intervir na Petrobras.

Convocaram Sachsida, o mais fiel membro da equipe de Guedes e de Bolsonaro, para segurar os reajustes. Ele já nem disfarça mais o abandono – até no discurso – da agenda liberal na economia. Depois veio Caio Mario Andrade, que não atende aos requisitos da Lei das Estatais. Melhor mudar a lei, segundo Lira.

petrobras

A brilhante ideia do ministro Guedes é espaçar reajustes por cem dias (mas vai que o preço cai e o real se valoriza? Vai acabar deixando o Sachsida desempregado). Guido foi direto ao ponto: congelou os preços de uma vez. O estatuto agora exige que a União compense a empresa por prejuízos causados por defasagens nos preços. Então, bora mudar as regras de governança.

Bolsonaro finge que está buscando uma solução técnica. Falou até em privatizar a Petrobras. Papo eleitoreiro: se a estatal não colabora, melhor me livrar dela. Todo mundo sabe que não é para valer.

O teatrinho dos ministros Guedes e Sachsida não colou. Não passa de uma farsa. Se fosse séria a ideia de vender a companhia, estariam tentando valorizar o ativo e aumentar os ganhos para a União. O que se vê é o oposto. A privatização não tem a menor viabilidade no momento nem garante a redução dos preços dos combustíveis.

A troca de ministros e diretoria não vai adiantar nada. O real objetivo por trás dessa pantomima é a entrega do comando da Petrobras ao Centrão.

É a pauta eleitoral no comando. Vale tudo para segurar os preços. Guedes está seguindo a cartilha do Mantega.

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