Pressão das commodities na inflação será menor

Após alta acelerada, oferta melhora e setor deverá ter redução de preços, segundo consultoria

Folha de São Paulo – 26.mai.2021 às 23h15

A pressão dos produtos agrícolas na inflação deverá sofrer uma reversão. Os Estados Unidos já apresentam sinais de safra melhor, e isso começa a impactar quando se olham os preços futuros dos grãos.

A análise é de Thaís Zara, economista-chefe da consultoria LCA e ex-colunista da Folha. “As principais casas que fazem estimativas de preços de grãos já sinalizam uma situação mais moderada no final do ano e no ano que vem.”

A economista alerta, no entanto, que ainda poderá haver surpresas no curto prazo, mas esse fôlego extra deverá perdurar por pouco tempo.

Agronegócio em meio a pandemia

Em uma revisão do cenário macroeconômico, feita nesta quarta-feira (26) pela LCA, Zara afirmou que há uma percepção de que esses preços tendem a estabilizar no curto prazo.

Pensando um pouco mais adiante, haverá um recuo até o final do ano ou começo do próximo, o que aliviaria bastante as pressões inflacionárias.

Até mesmo uma estabilização desses preços auxiliaria, uma vez que interromperia a tendência de alta inflacionária.

Com relação ao petróleo, outro componente de peso na inflação, devido à sua importância na economia, haverá mais pressão no curto prazo, mas existe capacidade produtiva não utilizada pelas indústrias.

Com isso, a alta tende a ser temporária, mas os preços não devem superar o patamar anterior à pandemia.

A tendência de menor pressão nos preços no horizonte já ajudaria a acomodar mais a inflação, afirma a economista.

As commodities metálicas também tiveram um movimento forte de alta, devido à recuperação de preço perdido durante a fase mais aguda da pandemia. É o que ocorreu na China.

Mas o país asiático coloca em prática, agora, políticas que sinalizam um freio a essa expansão mais forte de valorização das matérias-primas.

A médio prazo, há a perspectiva de uma melhora de produção em países importantes, como Austrália e Brasil. Com isso, a perspectiva é de uma estabilização dos preços até o final do ano

Mesmo que haja um quadro de volatilidade nos próximos dois a três meses, os sinais são de moderação. “A estabilização já contribui para que não haja mais pressão da inflação”, diz a economista.

Zara avalia o quadro de preços das commodities como temporário. Ela vislumbra um segundo semestre um pouco mais tranquilo do ponto de pressão desse setor.

Alimentos pressionaram inflação em 2020

Além da valorização das commodities, a economista alerta para outros gargalos, como o logístico. O preço dos fretes está no maior patamar desde 2011 na China e mostra pressão grande no sistema logístico dos Estados Unidos.

Os gargalos estão dentro do setor produtivo como um todo, mas não significa restrição permanente da oferta. Esta tende a ser revertida, conforme os estoques forem recompostos. Zara afirma, no entanto, que a restrição de oferta está se prolongando mais do que se imaginava.

Devido à pandemia, que aumenta em alguns países, como na Índia, a resolução desses gargalos demora um pouco mais, mas eles são temporários. Com vacinação e recomposição de estoques, eles tendem a ser superados.

Apesar de um cenário mais favorável das commodities até o final do ano, o setor já fez estragos na inflação. Após redução na eclosão da pandemia, principalmente no caso do petróleo, os preços tiveram recuperação. As commodities agrícolas e metálicas ganharam valores superiores aos anteriores à pandemia.

Mesmo com aumento de oferta em anos recentes, os estoques não cresceram muito, o que levou ao aumento de preços, devido a movimentos de recomposição de estoques de grãos.

A demanda adicional chegou em um momento em que a oferta não teve capacidade de resposta. Daí a alta forte desde o final de 2020, afirma Zara.

As previsões da LCA indicam o dólar a R$ 5,10 neste final de ano, a taxa Selic a 6,25% e o IPCA em 5,5%. A evolução do PIB deverá atingir 4%.

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