Dólar sobe e Bolsa hesita, com relatório do Fed e cena fiscal brasileira em foco

Investidores aguardam Livro Bege com análises do momento econômico dos EUA, na expectativa de mais pistas sobre a trajetória dos juros

SÃO PAULO

dólar tinha alta nesta quarta-feira (16), com investidores de olho nos próximos passos da política monetária dos Estados Unidos e da cena fiscal brasileira, após entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Record na noite de ontem.

Às 10h30, a moeda norte-americana subia 0,81% e estava cotada a R$ 5,473 na venda. O avanço estava em linha com a força da divisa em mercados emergentes, em especial o rand sul-africano e o peso mexicano.

Já a Bolsa operava em volatilidade, com queda de 0,05%, aos 129.050 pontos.

A imagem mostra uma mão segurando uma nota de um dólar americano contra um fundo azul. A sombra da mão e da nota é visível no fundo.
Investidores também reagem à entrevista de Lula na Record; parte do conteúdo foi a público antes da divulgação na íntegra e afetou o mercado – Gabriel Cabral/Folhapress

A quarta-feira reserva a divulgação do Livro Bege do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), um relatório sobre as condições da economia norte-americana.

O mercado aguarda por sinais de que a autarquia poderá iniciar o ciclo de cortes na taxa de juros dos EUA, atualmente na faixa de 5,25% e 5,50%, nas próximas reuniões de política monetária.

Operadores passaram a precificar a possibilidade de três cortes neste ano, sendo o primeiro na reunião de setembro, seguido de cortes adicionais em novembro e dezembro. Eles apostam em 68 pontos-base de afrouxamento ainda em 2024, de acordo com a ferramenta FedWatch da CME.

O otimismo segue a esteira de declarações recentes de Jerome Powell, presidente do Fed. Em evento no Clube Econômico de Washington, na segunda-feira, ele afirmou que as leituras de inflação do país dos últimos três meses “aumentaram um pouco a confiança” de que o ritmo de alta de preços está voltando para a meta de 2%.

“No segundo trimestre, na verdade, fizemos um pouco mais de progresso”, disse. “Tivemos três leituras melhores e, se fizermos a média delas, é uma posição muito boa.”

Quanto maior o afrouxamento na política monetária, pior para o dólar, que se torna comparativamente menos interessante quando os rendimentos dos Treasuries diminuem.

Na cena doméstica, os agentes financeiros digeriam as falas de Lula à Record. Trechos da entrevista chegaram ao conhecimento do mercado antes da divulgação pela emissora e geraram ruídos sobre a política fiscal do país.

Por outro lado, disse que a meta de déficit zero para este ano não está rejeitada e se comprometeu a fazer o necessário para cumprir arcabouço fiscal.

O ministro Fernando Haddad (Fazenda), por outro lado, afirmou que é possível que haja bloqueio e contigenciamento no Orçamento deste ano no relatório bimestral de receitas e despesas que será publicado na próxima segunda-feira (22).

“Passado os 2,5% [do teto de despesa do arcabouço], tem que haver contrapartida de bloqueio, e contingenciamento no caso de receita [abaixo do esperado]. Nós estamos com essa questão pendente, ainda, do cumprimento da decisão do STF sobre a compensação [da desoneração da folha de salários]”, disse.

Na próxima segunda, o governo terá de enviar ao Congresso o documento que aponta a necessidade de fazer ou não tanto um bloqueio para o cumprimento do teto de despesas do arcabouço fiscal quanto um contingenciamento para não estourar a regra da meta.

O relatório da próxima semana é visto como teste do compromisso da equipe econômica com a meta para as contas públicas e a busca do equilíbrio fiscal.

“O mercado está um pouco preocupado com a política fiscal, um tema que pressionou bastante os ativos domésticos em junho e que abaixou de temperatura no início de julho, mas que volta agora a colocar incertezas no radar dos investidores”, diz Jennie Li, estrategista de ações de Research da XP.

“O foco está na sustentabilidade do arcabouço fiscal e na perseguição da meta de resultado primário. Domesticamente, as perspectivas em relação à política econômica daqui para frente continuam muito relevantes.”

Em dia de volatilidade, a Bolsa se firmou no campo negativo com a repercussão das falas de Lula, ainda que em leve queda de 0,16%, a 129.110 pontos.

Na terça-feira (16), fechou em queda de 0,31%, a R$ 5,428 na venda.

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