Desemprego tem menor taxa da série para trimestre até agosto; renda fica estável
Desocupação recua a 6,6%, e população ocupada renova recorde (102,5 milhões), diz IBGE
A taxa de desemprego do Brasil continuou em trajetória de baixa no trimestre encerrado em agosto, recuando a 6,6%, segundo dados divulgados nesta sexta (27) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
É o menor patamar para esse período na série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), iniciada em 2012. O indicador estava em 7,1% no intervalo até maio, que serve como base de comparação.
Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas domiciliares do IBGE, associou o novo resultado a um processo contínuo de maior demanda por trabalhadores nos últimos trimestres.
Considerando toda a série histórica, a menor taxa já registrada na Pnad foi de 6,3% até dezembro de 2013, antes de a economia nacional mergulhar em recessão.
“A baixa desocupação reflete a expansão da demanda por trabalhadores em diversas atividades econômicas, levando a taxa de desocupação para valores próximos aos de 2013, quando esse indicador estava em seu menor patamar”, disse Beringuy.
O novo resultado (6,6%) veio ligeiramente abaixo da mediana das projeções do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam taxa de 6,7% para o trimestre até agosto. O intervalo das previsões ia de 6,6% a 6,9%.
De acordo com o IBGE, o número de desempregados baixou a 7,3 milhões. É o menor nível para o trimestre até agosto desde 2014 (6,9 milhões).
O contingente de desocupados recuou 6,5% ante maio (menos 502 mil pessoas) e caiu 13,4% frente a igual intervalo do ano passado (menos 1,1 milhão).
A população desempregada reúne pessoas de 14 anos ou mais que estão sem trabalho e que seguem à procura de oportunidades. Quem não está buscando vagas, mesmo sem ter emprego, não faz parte desse grupo.
População ocupada renova recorde
A população ocupada com algum tipo de trabalho, aponta o IBGE, chegou a 102,5 milhões até agosto. Assim, renovou a máxima dos diferentes intervalos da série.
Com mais gente trabalhando, o nível da ocupação alcançou 58,1% até agosto. Trata-se da proporção de pessoas ocupadas em relação ao total de 14 anos ou mais.
O percentual não bateu recorde, mas se aproximou dos maiores patamares da série. Considerando somente os trimestres até agosto, o indicador era de 58,3% em 2012 e de 58,2% em 2013.
Conforme o IBGE, a geração de vagas aumentou tanto no setor formal quanto no informal, com leve predomínio do segundo.
Do acréscimo de 1,2 milhão de pessoas ocupadas ante maio, 694 mil (mais da metade) estavam na informalidade.
O contingente envolve, por exemplo, empregados sem carteira assinada e autônomos ou empregadores sem CNPJ.
A taxa de informalidade foi estimada em 38,8% até agosto. O indicador mede a proporção de informais ante o total ocupado.
Esse percentual já foi maior na série. Estava em 41% no período até agosto de 2019, antes da pandemia.
No intervalo mais recente da Pnad, tanto os empregados com carteira assinada no setor privado (38,6 milhões) quanto os sem carteira (14,2 milhões) renovaram as máximas de diferentes trimestres.
O grupo dos empregados no setor público também bateu recorde: 12,8 milhões.
Um reflexo da ocupação em alta atinge a massa de rendimento real, conhecida como a soma dos salários, que alcançou R$ 326,2 bilhões. É outra máxima da série.
A renda média dos trabalhadores ocupados, por sua vez, foi estimada em R$ 3.228 até agosto. Ante igual trimestre de 2023 (R$ 3.073), o indicador seguiu em crescimento, com alta de 5,1%.
Porém, em um intervalo mais curto de comparação, o indicador deu sinais de perda de ritmo. O rendimento médio até agosto (R$ 3.228) ficou 0,6% acima do registrado até maio (R$ 3.209).
O IBGE considera o resultado dentro da margem de estabilidade, por não haver uma variação significativa.
“Neste trimestre, a gente teve um pouquinho mais de protagonismo da população ocupada informal, que de modo geral tem rendimentos menores”, apontou Beringuy.
“Isso pode de alguma forma não trazer uma expansão significativa em termos de valores e do ponto de vista estatístico”, completou.
O economista Igor Cadilhac, do PicPay, avalia que a renda se estabilizou em um patamar elevado para o histórico da Pnad.
Segundo ele, durante a pandemia, muitos trabalhadores não tiveram reajuste salarial “condizente”, e o “bom comportamento dos preços” contribuiu para as recentes correções acima da inflação.
Para o pesquisador Fernando de Holanda Barbosa Filho, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), os números da Pnad ainda refletem o cenário positivo da atividade econômica, em níveis acima dos esperados inicialmente.
“Os dados reforçam tudo aquilo que a gente viu ao longo dos últimos meses. É uma economia com mercado de trabalho aquecido. A taxa de desemprego está muito baixa, e os salários cresceram sistematicamente acima da produtividade do trabalhador”, diz.
A redução da desocupação, acompanhada por ganhos de renda, tende a beneficiar o consumo das famílias, considerado motor do PIB (Produto Interno Bruto).
O possível efeito colateral da procura por bens e serviços em alta, de forma contínua, é a pressão sobre os preços, que desafiaria o processo de desinflação.
Segundo Barbosa Filho, o final de 2024 ainda deve ser “bom” para o mercado de trabalho, apesar do aumento da taxa de juros pelo BC (Banco Central), que tende a esfriar a economia para combater a inflação.
“Tem uma certa demora entre o aumento da taxa de juros e os seus impactos. A gente espera que isso comece a afetar a economia somente no ano que vem”, diz o pesquisador.
A taxa de desemprego já havia marcado 6,8% até julho deste ano. O IBGE, contudo, evita a comparação direta entre trimestres com meses repetidos, como é o caso dos intervalos finalizados em julho e agosto.
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