Vendas on-line caem em SP pela primeira vez em sete anos com influência do caso Americanas

Estudo da FecomercioSP mostra recuo em 2023 provocado pelas altas taxas de juros, inadimplência e efeito de escândalo da rede varejista; movimento deve reverter este ano

Daniele MadureiraSão Paulo

Em 2023, pela primeira vez em sete anos, o faturamento do comércio eletrônico no estado de São Paulo caiu: houve um recuo de 1,6% no ano em comparação a 2022, para R$ 67 bilhões, segundo estudo da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo).

Ao mesmo tempo, a participação do comércio eletrônico caiu em relação ao varejo físico no estado: de 6,2% em 2022, a venda on-line representou o equivalente a 5,9% da venda nas lojas físicas em 2023.

O estudo foi produzido com base em relatórios de transações de notas fiscais do Observatório do Comércio Eletrônico Nacional, ligado ao MDIC (Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Serviços e Comércio), que acompanha uma série histórica iniciada em 2016, além de informações do IBGE e em dados coletados pela própria FecomercioSP.

Um trabalhador está empurrando um carrinho de transporte em um armazém. Ele usa uma camisa de segurança de mangas longas em vermelho e amarelo, calças escuras e luvas. Ao fundo, há prateleiras altas repletas de caixas organizadas. O chão é de concreto e há uma linha amarela no chão, indicando uma área de segurança.
Trabalhar em CD (centro de distribuição) do Mercado Livre em Cajamar, na Grande São Paulo. – Karime Xavier/Folhapress

Os dados chamam a atenção porque o estado de São Paulo é o maior mercado consumidor do varejo on-line, responsável por cerca de um terço (32,7%) de todas as vendas em nível nacional, seguido por Minas Gerais (11,3%) e Rio de Janeiro (9,7%).

Entre as razões para o recuo, estão a conjuntura econômica de 2023, marcada pela inadimplência e pelos juros altos, até a desconfiança que o e-commerce passou a viver em meio à crise da Americanas, até então um dos maiores marketplaces do país.

“Muitos consumidores, percebendo o risco vivido por diversas varejistas no ano passado, especialmente pela Americanas, resolveram voltar às compras no varejo físico”, diz o assessor econômico da FercomercioSP, Guilherme Dietze.

De acordo com o especialista, o atual nível de 5,9% das vendas do varejo físico tende a crescer este ano, uma vez que mais investimentos em centros de distribuição estão sendo realizados por grandes competidores, como Mercado Livre e Amazon.

“O aumento da representatividade do comércio eletrônico no varejo está diretamente relacionado à expansão da capacidade de armazenamento e logística das empresas”, afirma Dietze, destacando que os 5,9% representam as vendas paulistas de empresas sediadas no Brasil –não incluem itens comprados por brasileiros em sites estrangeiros.

O estudo da FecomercioSP aponta que, dos R$ 67 bilhões das compras on-line realizadas por paulistas em 2023, cerca de dois terços das operações ocorreram no próprio estado. Ou seja: foram R$ 44,1 bilhões em vendas feitas por empresas paulistas para consumidores também paulistas.

No ano passado, o smartphone foi o produto campeão de vendas, segundo o levantamento: R$ 3,2 bilhões em vendas só desse tipo de item, seguido por livros e impressos (R$ 1,7 bilhão), geladeiras (R$ 1,6 bilhão) e computadores (R$ 1,3 bilhão).

“O comércio eletrônico deve voltar a crescer este ano, assim como as vendas da Black Friday, que coincidem com o pagamento da primeira parcela do 13º salário”, afirma.

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