Dados indicam que indústrias multinacionais de pneus no Brasil pagam mais pela importação de matéria-prima

O sobrepreço chega a 46% quando as fábricas instaladas no país importam o insumo do mesmo grupo ao qual pertencem

 Valor Econômico – Abidip – 18/09/2024

Com sede em Boston (EUA), a consultoria global Charles River Associates (CRA), empresa com mais de 50 anos de experiência em investigações e em análise econômica e estratégica, aponta que pode haver elevação artificial no preço dos insumos importados pelas indústrias multinacionais fabricantes de pneus instaladas no Brasil. Estudo foi realizado a pedido da Sunset Tires.

“Quando o insumo parece ser importado de uma empresa do mesmo grupo econômico, a diferença tende a ser, em média, 22%. Por se tratar de commodities, não era de se esperar diferenciação no custo dos insumos importados. Isso pode indicar elevação artificial do preço de matéria-prima”, pondera a Charles River Associates em seu relatório.

Para avaliar o custo da matéria-prima na fabricação de pneus, analisaram-se as importações de quatro itens: negro de fumo; outras borrachas de estireno-butadieno (SBR); borracha de butadieno (BR); e borracha natural tecnicamente especificada (TSNR). No conjunto, esses materiais respondem por quase 70% do custo da matéria-prima na fabricação de pneus.

Para o negro de fumo, por exemplo, o preço pago quando o provável importador é a indústria de pneus e a aquisição é feita de exportador pertencente ao mesmo grupo econômico é, em média, 46% mais alto do que aquele arcado pelos não fabricantes. Para os insumos SBR e BR, a diferença é de 23% e 19%, respectivamente. Somente para o TSNR é menor, da ordem de 5%. “Sendo assim, os valores mais elevados aparentemente pagos por fabricantes nacionais aumentam seus custos e não devem ser utilizados como parâmetros de eventual dano que alegam sofrer”, enfatiza o estudo.

Argumento infundado

Além disso, a CRA salienta ser descabida a tese de que os pneus importados teriam valor inferior ao das matérias-primas utilizadas em sua fabricação. Esse argumento tem sido utilizado pela Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP) para basear pedido de aumento da alíquota do Imposto de Importação desses produtos de 16% para 35%. O caso está em análise na Camex – Câmara de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

De acordo com o estudo da CRA, o custo médio da matéria-prima para a produção de pneus é de US$ 1,63 por quilo. Já o preço médio dos pneus importados ao Brasil é de US$ 2,90 por quilo, conforme destacou a LCA, consultoria contratada pela ANIP. Essa diferença de 81% entre o custo da matéria-prima e o preço com que o produto chega ao país indica claramente que não há nada de anormal.

“Causa espanto que os representantes da indústria de pneumáticos façam uma acusação genérica sem provas que prejudica a imagem dos importadores e exportadores idôneos”, frisa Samer Nasser, diretor de Relações Institucionais da Sunset Tires, afirmando: “Ao contrário do que têm dito Klaus Curt Müller, presidente da ANIP, a todos os meios de comunicação e, inclusive, em audiência pública na Câmara dos Deputados, das declarações de Damian Seltzer, presidente da Bridgestone, sobre uma ‘concorrência desleal’, e da alegação de que pneus asiáticos estariam sendo vendidos abaixo do custo da matéria-prima, o estudo da Charles River Associates revela que o setor importador atua de maneira absolutamente dentro das regras e normas do nosso país”.

Ao tomar conhecimento do estudo, o presidente da Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Pneus (Abidip), Ricardo Alípio da Costa, também destaca que “o momento é crítico não apenas para o nosso setor, que enfrenta os impactos do dólar a R$ 5,50 e do frete marítimo internacional a nove mil dólares por contêiner, mas também para os caminhoneiros autônomos, responsáveis por 70% do transporte rodoviário de cargas, que não suportarão qualquer aumento nos custos dos pneus. Como bem frisou o superintendente da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) na audiência pública realizada na Câmara dos Deputados, a situação é grave”.

Alípio da Costa acrescenta que a possibilidade de os fabricantes estarem pagando mais pela matéria-prima importada é uma conduta que deve ser verificada pelo governo federal antes de tomar qualquer decisão precipitada. “Já está mais do que provado que o país necessita dos pneus nacionais e dos importados, pois os próprios fabricantes, assim como várias montadoras de veículos e industrias de implementos, suprem suas necessidades com a importação, além do que, a indústria dita nacional há anos não expande seu parque industrial na proporção da demanda interna”.

Janderson Maçanero, conhecido como Patrola, que tem sido uma liderança dos caminhoneiros nas discussões sobre o tema, observa que “em 2018, realizamos uma paralisação nacional devido a um aumento de 20 centavos no diesel. Agora, estamos falando de um acréscimo de R$ 800,00 no custo por pneu. Não aceitaremos esse aumento, que, com certeza, fará o preço dos alimentos disparar, impactando a inflação, a cesta básica e o cotidiano dos brasileiros”.

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