Fabricantes no Brasil seguem EUA e preparam guerra contra subsídios de pneus da China

Processo deve ser aberto pela Anip, associação da indústria local, que aponta Brasil como alvo de invasão de asiáticos

Fabricantes de pneus instalados no Brasil preparam uma nova ofensiva junto ao governo contra subsídios da China aos pneus que, segundo a Anip (Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos), invadiram o mercado com preços muito abaixo da média internacional.

Para isso, tomaram emprestado provas de uma investigação conduzida pelos EUA e que levaram o país a impor mais barreiras contra os artigos chineses.

“É um processo que atestou a existência de subsídios do governo chinês e que ajudou a equilibrar forças”, disse Klaus Curt Müller, presidente da Anip. “Temos uma competição desleal.”

O processo deve ser protocolado no Ministério da Indústria até o fim de setembro e contará ainda com um estudo inédito da consultoria LCA mostrando que o Brasil se tornou alvo preferencial dos pneus importados.

Segundo o estudo, em 2023, os pneus de carga importados ingressaram no país por um preço médio de US$ 2,90 por quilo, enquanto no mercado internacional foi comercializado por US$ 4,20.

Para isso, a LCA verificou o custo do pneu de carga importado em alguns mercados de referência. Nos EUA, o maior mercado importador do mundo, o preço médio do quilo do pneu importado ficou na casa de US$ 4,40, no México o valor praticado foi de US$ 4,50 e na França, US$ 5,30.

O Brasil foi o país que apresentou menor preço médio de pneus importados de carga da lista – 69% mais baratos do que os preços praticados no exterior.

Veículos de passeio

No caso dos pneus de passeio, a distorção verificada também é significativa. Em 2023, o quilo do pneu importado era comercializado internacionalmente, em média, por US$ 5,70.

No Brasil, ele entrou por U$ 3,20. Nos EUA, o quilo custou US$ 5,80 e, na França, US$ 6,50.

“Essa variação absurda, mostra principalmente que os países asiáticos estão aproveitando a falta de proteção tarifária no Brasil para exportar para o país produtos a preços desleais no mercado local, afetando negativamente toda a cadeia de produção de pneus no Brasil,” disse Müller.

Entre 2021 e 2023, EUA, México e países da Europa, ergueram barreiras tarifárias para defender a indústria local.

Nos EUA, em 2022 foi concluído o processo para o estabelecimento de medidas compensatórias contra as importações chinesas, estabelecendo taxas entre 25% e 125%.

Em abril de 2020, o país já havia renovado o antidumping contra as importações chinesas, estabelecendo uma taxa de 76,5%.

Após as medidas, as importações nos EUA de pneus de carga e de passeio da China encolheram 30,5% ante 2022.

No ano passado, o aumento da importação de pneus de passeio foi de 104% em relação a 2021. No segmento de carga, o aumento foi de 84%.

Por isso, a Anip pediu à Camex (Câmara de Comércio Exterior) para impor uma elevação da Tarifa Externa Comum (TEC) por dois anos —de 16% para 35%— para pneus de passeio e de carga. O prazo está para vencer e a associação pede a renovação.

“A medida é necessária para evitar demissões e desestruturação da cadeia de produção de pneus no Brasil. É impossível competir com produtos que chegam ao país muitas vezes com valor inferior ao custo da matéria-prima”, disse Müller.

“Mais da metade dos pneus importados da Ásia ingressaram com preços abaixo do custo de produção.”

O Brasil tem hoje 11 fabricantes de pneus com operações no país. São 21 plantas industriais, distribuídas por sete estados.

Esse grupo registrou 52 milhões de pneus vendidos em 2023 e investiu R$ 11 bilhões na última década.

Em nota, a Abidp, associação que representa os importadores de pneus, disse que a Anip insiste em uma “falsa narrativa” que esconde seu interesse de monopolizar o mercado.

A associação afirmou que os importadores já pagam antidumping, lidam com a escalada do dólar e preços recordes do frete marítimo. Estudos encomendados pela entidade junto a Consultoria Guimarães mostram que um eventual aumento da tarifa terá impacto de 0,25% na inflação do país.

Os importadores ainda disseram que as multinacionais instaladas no país compram matéria-prima de seus departamentos globais de compra, criando uma forma de remeter lucros ao exterior a partir do produto superfaturado no Brasil.

“O nome ‘bonito’ para o superfaturamento chama-se ‘intercompany’. A subsidiária da Goodyear do Brasil está praticamente obrigada a comprar da Goodyear Chemical Inc. dos EUA. O lucro da Goodyear do Brasil é trancado a sete chaves. Nos último dois anos lucraram entra US$ 140 milhões e US$ 150 milhões/ano. Somente é possível acessar os números dentro de um P&L dos EUA”, disse a Abidp, que também citou a mesma prática na Bridgestone.

Com Diego Felix

0 respostas

Deixe uma resposta

Want to join the discussion?
Feel free to contribute!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *