Congresso ameaça retaliar governo Lula após ofensiva de PGR e STF contra emendas

Presidente de comissão diz que suspenderá prazos para votação do Orçamento até que se esclareça critérios para as verbas

Julia ChaibIdiana Tomazelli Brasília

As investidas do STF (Supremo Tribunal Federal) e da PGR (Procuradoria-Geral da República) contra a falta de critério e de transparência das emendas parlamentares geraram reação do Congresso Nacional, que ameaça retaliar o governo Lula (PT) em votações ligadas ao Orçamento.

O presidente da CMO (Comissão Mista de Orçamento), Julio Arcoverde (PP- PI), afirmou nesta quarta-feira (7) que suspenderá o prazo de leitura do parecer da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) até que haja uma definição sobre a distribuição dessas verbas.

As emendas são uma forma pela qual deputados e senadores conseguem enviar dinheiro para obras e projetos em suas bases eleitorais e, com isso, ampliar seu capital político. A prioridade do Congresso tem sido a de atender seus redutos eleitorais, e não as localidades de maior demanda no país.

O deputado Arcoverde considera as atitudes do Supremo e da PGR em relação ao tema uma “interferência” desses órgãos no Legislativo e relata que recebeu uma série de ligações de seus pares com queixas sobre as decisões.

“Minha atitude foi adiar qualquer agenda em relação à leitura da LDO. O cronograma previa para que eu lesse na segunda quinzena de agosto. Mas como posso prever uma coisa futura se eu não tenho uma base legal agora?”, questiona.

A LDO define os parâmetros para elaborar e executar o Orçamento do ano seguinte, neste caso, o de 2025, o que inclui as emendas parlamentares. O cronograma regular prevê sua aprovação antes do início do recesso parlamentar em 18 de julho de cada ano, mas já houve atrasos em anos anteriores.

Segurar a votação indefinidamente, porém, pode gerar complicações graves para o governo.

Sem a aprovação da LDO até o final de 2024, a União fica sem nenhuma base legal para executar o Orçamento do ano seguinte, ainda que de forma provisória. Isso significa a impossibilidade de pagar até mesmo despesas obrigatórias, como salários e benefícios sociais.

Por isso, a sinalização de adiamento da LDO à espera de uma solução para as emendas tem o efeito de pressionar o governo para ajudar a resolver o impasse.

O presidente da CMO diz que conversará ainda com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), para saber como a Casa deve proceder em relação aos movimentos de STF e PGR.

Gonet afirma que a emenda, formalmente chamada de transferência especial, “não se revela admissível, por importar perda da transparência e da rastreabilidade dos recursos alocados”.

De forma cautelar, ou seja, imediata, Gonet pede para o STF suspender essa modalidade de verba. O pedido final do procurador-geral é para o tribunal declará-la inconstitucional. O valor orçado para as emendas Pix em 2024 soma cerca de R$ 8,2 bilhões.

Na semana passada, o ministro Flávio Dino demandou uma série de auditorias nas emendas parlamentares e decidiu que novas regras transparência sobre essas verbas. Dino determinou, por exemplo, que o governo só execute gastos de emendas de comissão que tenham prévia e total rastreabilidade.

Em decorrência das decisões, o governo suspendeu o pagamento de todas as emendas de comissão e dos restos das emendas de relator.

A Câmara já decidiu recorrer da decisão. Apesar de ter sido tomada pelo STF, parlamentares desconfiam que o governo tenha articulado a medida junto a Dino como forma de diminuir o poder do Congresso sobre as emendas, e, consequentemente, o Orçamento da União.

Dois ministros negam que o governo tenha articulado a decisão, mas dizem temer os desdobramentos das atitudes de PGR e STF justamente pelo potencial de piorar a relação entre o Parlamento e o governo.

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