Inflação medida pelo IPCA-15 desacelera para 0,30%, mas fica acima das expectativas

Após oito meses de alta, preços dos alimentos recuaram; mas passagens aéreas e bandeira amarela na conta de luz pressionaram o índice

Stéfanie RigamontiSÃO PAULO

O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) registrou nova desaceleração em julho, para 0,30%, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (25) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em junho, a inflação foi de 0,39%.

O resultado, porém, ficou acima das expectativas do mercado. A mediana das estimativas levantadas pela Bloomberg junto aos analistas apontava para uma inflação de 0,23% na comparação mensal.

No acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA-15 teve alta de 4,45% em julho, enquanto o mercado esperava uma taxa de 4,38% no período. Em junho, o índice ficou em 4,06% nesse recorte de tempo.

Por ser publicado antes, o IPCA-15 sinaliza uma tendência para a contagem oficial de preços do país.

Após oito meses consecutivos de alta, preços dos alimentos recuam e ajudam a dar uma alívio ao índice
Após oito meses consecutivos de alta, preços dos alimentos recuam e ajudam a dar uma alívio ao índice – Allison Sales -16.jul.2024/Folhapress

Os preços do grupo alimentos e bebidas ajudaram a dar um alívio ao índice em julho, com recuo de 0,44%, após oito meses consecutivos de alta.

Em contrapartida, transportes tiveram o maior peso no mês, com alta de 1,12%, em boa parte devido às passagens aéreas, que voltaram a subir. No grupo de habitação, a conta de luz também colaborou para a alta do índice devido ao retorno da bandeira amarela.

Também aferido pelo IBGE, o IPCA-15 se difere da inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA, devido ao período de coleta, que ocorre entre a segunda metade do mês anterior e a primeira metade do mês de referência da divulgação.

O IPCA, por sua vez, é baseado em dados levantados apenas no mês de referência, e será divulgado no dia 9 de agosto. Por isso, o resultado fechado de julho ainda não aparece completamente na coleta do IPCA-15.

Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE, 7 tiveram alta no mês de julho. No grupo de transportes, as passagens aéreas voltaram a subir (19,21%), contribuindo com 0,12 ponto percentual no índice.

Os combustíveis veiculares também voltaram a registrar alta de preços (1,39%), com contribuição do etanol, que subiu 1,78%, da gasolina, com elevação de 1,43%, e o óleo diesel, 0,09%. Já o gás veicular recuou 0,25%.

Já em alimentação e bebidas, o item alimentação no domicílio foi o que mais ajudou para o recuo de preços, após uma queda de 0,70% em julho.

Contribuíram para esse resultado a cenoura, com queda de 21,60%, o tomate, que baixou 17,94%, a cebola, que caiu 7,89%, e as frutas, com -2,88%. No lado das altas, os maiores destaques foram o leite longa vida (2,58%) e o café moído (2,54%).

Para a economista Luciana Rabelo, do Itaú BBA, os preços da alimentação no domicílio vieram abaixo das expectativas. Por outro lado, as principais surpresas de alta do IPCA-15 de julho vieram das passagens aéreas e dos serviços veiculares.

“Os itens que repetem a variação do IPCA-15 no IPCA fechado do mês (passagem aérea, cursos, aluguel e condomínio, mão de obra, empregado doméstico, entre outros) vieram 11 bps acima da nossa projeção”, diz Rabelo.

“Na margem, houve deterioração do quadro benigno da inflação corrente observado nos últimos meses”, diz Olivares.

Em relação aos núcleos de serviços, medida que é acompanhada de perto pelo Banco Central em suas decisões de juros, Luciana Rabelo diz eles estiveram acima das projeções, principalmente devido aos serviços para veículos e condomínio.

“O IPCA-15 de julho veio com abertura pior do que a esperada, especialmente em função da aceleração dos serviços subjacentes, mostrando que a mínima do ano deve ter ficado em junho”, diz a economista.

EXPECTATIVAS PARA A SELIC

A inflação oficial é importante para as decisões de juros do país. O centro da meta perseguida pelo Banco Central é de 3% no acumulado de 2024.

A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos (1,5%) ou para mais (4,5%). Assim, a meta será cumprida se o IPCA ficar dentro do intervalo de 1,5% a 4,5% nos 12 meses até dezembro.

O mercado projeta que o IPCA encerre 2024 a 4,05%, segundo a mais recente edição do Boletim Focus divulgada pelo BC na última segunda-feira (22), e que retomou expectativa de aceleração da inflação neste ano. O documento reúne as projeções de economistas para os principais indicadores econômicos do país.

Para o economista, a taxa básica de juros, Selic, certamente será mantida em 10,5% na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que acontece na semana que vem. “Eu diria que o cenário quase que otimista neste momento é a manutenção da Selic em 10,5% até o final do ano”, diz.

Ele lembra que o comportamento das taxas de juros futuros já embute apostas de volta de alta da Selic. Para ele, é possível que o BC volte a pensar em elevação dos juros em 2024, e diz que isso pode instalar uma briga interna entre os diretores. “Essa é uma questão que deve se inaugurar no segundo semestre”, opina.

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