O mundo precisa se preparar para uma guerra em Taiwan

Atualização: 

Coluna Oliver Stuenkel Analista político e Professor de Relações Internacionais da FGV-SP

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Não é segredo que Xi Jinping, o qual deve ter seu terceiro mandato presidencial confirmado durante o 20º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês, sonha entrar na história como o líder que alcançou a reunificação entre China Taiwan. Retomar o controle da ilha, onde os nacionalistas derrotados por Mao Tsé-tung se refugiaram em 1949, é uma tarefa inadiável que não deve ser transferida para as próximas gerações, como o próprio Xi gosta de ressaltar.

Não surpreende, portanto, que o governo chinês tenha aproveitado a recente visita de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, a Taiwan para responder com exercícios militares em grande escala: pela primeira vez na história, Pequim disparou mísseis que sobrevoaram Taiwan, usou munição real ao redor da ilha – na prática, ensaiando um bloqueio aeronaval – e anunciou uma redução da cooperação militar com os Estados Unidos.

É provável que essas medidas sejam permanentes – afinal, depois de anos incitando um nacionalismo desenfreado na população, Xi tem pouco espaço de manobra para recuar e parecer fraco: nas redes sociais chinesas, houve até demandas para que a China abatesse o avião de Pelosi antes de ele pousar em Taipei.

Com o Estreito de Taiwan cada vez mais cheio de navios militares, aumenta também o risco de confrontos acidentais, que, diante do diálogo mais frágil entre as Forças Armadas americanas e chinesas, podem rapidamente escalar.

“Reunificação Pacífica”

A opção preferida de Pequim seria por uma reunificação pacífica, dando a Taiwan o mesmo status de Hong Kong – mas a população taiwanesa está cada vez menos disposta a aceitar o que seria, na prática, uma anexação: o PIB per capita de Taiwan é mais que o dobro do chinês, e sua democracia regularmente aparece entre as mais consolidadas do mundo em rankings internacionais, deixando no chinelo até bastiões democráticos como a Suíça e o Canadá.

A China, é claro, optaria inicialmente por um bloqueio naval para convencer Taiwan a aceitar a autoridade de Pequim, mas tal cenário quase certamente levaria a um conflito quando a ilha ou seus aliados tentassem furar o bloqueio. Representantes do governo chinês sabem que Pequim encontrará resistência e já sinalizaram que a estratégia para Taiwan pós-reunificação envolveria uma presença militar chinesa e uma campanha de reeducação da população taiwanesa para eliminar pensamentos separatistas.

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