Mercado de pneus mantém otimismo, mas com ressalvas

Mercado espera mostrar recuperação em 2022, mas diversos fatores podem impactar no desempenho do setor

Apesar de ter acusado uma queda de 2,8% nas vendas totais de pneus ao mercado brasileiro no primeiro trimestre de 2002, a ANIP (Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos) mantém uma expectativa positiva para ano. É o que afirma o Presidente executivo da entidade, Klaus Curt Müller, em entrevista exclusiva para Frota&Cia Online

Segundo o executivo, a perspectiva é baseada na implantação da norma de emissões Proconve P 8, equivalente ao Euro VI, prevista para entrar em vigor em 1º de janeiro de 2023. “Historicamente, nos anos que antecedem a mudança da tecnologia mínima embarcada nos veículos pesados, como é o caso de 2022, ocorre uma alta na compra de veículos novos. Isso explica o otimismo colocado na projeção para 2022”, comenta Klaus Curt.

Dados: ANIP

Entretanto, inúmeros fatores podem colocar em risco essa previsão, na visão do dirigente. A começar pela possibilidade das compras previstas para o ano já terem ocorrido em 2021, uma vez que os juros do financiamento estavam bem atrativos. Associado ao fato de que os compradores de veículos pesados estavam bem mais capitalizados no ano passado. “No cenário atual, o que vemos é uma grande expansão da taxa Selic, que agora está acima dos dois dígitos e inibe a compra de produtos de maior valor, como é o caso dos veículos pesados. Na prática, os juros altos podem ter levado o preço dos veículos pré-Proconve a algo muito semelhante ao pós-Proconve, tirando parte considerável da motivação da compra”, completa Klaus.

Alta taxa de importações

Outro fator que interfere diretamente no desempenho do mercado é o grande volume de importações de pneus, incentivada pelo governo. O presidente da ANIP lembrou que o Governo manteve a isenção do imposto para pneus vindo de fora do país, incentivando a compra externa; uma decisão que fez com que o volume de produtos importados mais do que dobrasse.

Klaus Curt Muller, Presidente da ANIP
Klaus Curt Muller, Presidente da ANIP

“É extremamente importante pontuar que a manutenção do Imposto de Importação de pneus de carga a 0%, mesmo sem embasamento técnico para tal, tem gerado um grave impacto no mercado para a indústria nacional. O claro surto de importação que vivemos – com março apresentando o recorde histórico de mais de 300 mil unidades importadas, sendo que a média para anos anteriores era de 143 mil – empurra a indústria nacional para baixo em detrimento de incentivar importadores a trazerem pneus produzidos fora do país”.

Falta de semicondutores

O mercado de pneus também sente o impacto da falta de semicondutores na indústria automotiva, que afeta toda a cadeia produtiva. A quebra no ritmo da produção de veículos novos afeta diretamente o fluxo de venda de pneus para as montadoras, em prejuízos dos fabricantes do produto. A entidade alerta para a interferência desse fator no resultado final do segmento.

“A falta de semicondutores tem afetado a programação das montadoras e gerado, inclusive, a suspensão de compras e até mesmo a devolução de pneus. Essa alteração na programação das montadoras é visível, observando as inúmeras notícias de parada na produção de veículos, principalmente de veículos leves. É importante mencionar que esse cenário tem afetado a indústria nacional de pneus. A queda nas vendas de equipamento original, em especial para o segmento de veículos leves, tem empurrado as indústrias para níveis preocupantes de capacidade ociosa. Em consequência do fato, a queda da demanda produz uma menor eficiência financeira.”

TAL CENÁRIO É PREOCUPANTE CONSIDERANDO QUE O SETOR, COMO UM TODO, TEM FEITO SEGUIDOS INVESTIMENTOS EM MAQUINÁRIO E PESSOAL DESDE O ANO PASSADO – INVESTIMENTOS ESSES QUE SOMAM 1,6 BILHÃO DE REAIS NO PIPELINE.

Projeções para o ano

Nas contas da entidade, as vendas totais de pneus acusaram alta de 9,6% em 2021, quando comparado com o ano de 2020. Entretanto, apesar do crescimento, os volumes não alcançaram os patamares pré-pandemia, ficando 4,5% abaixo na média.

Para 2022, a associação prevê a recuperação do setor, com números acima de 2019, último ano antes da pandemia, apostando em mais de 60 milhões de unidades comercializadas para o ano em curso.

Projeção da ANIP

“É importante mencionar que, apesar do cenário complexo, o segundo semestre irá mostrar se o Proconve terá impacto no mercado de veículos novos. A possibilidade de números mais robustos no segundo semestre também se reflete na Anfavea, que optou por não rever as projeções por ora”, finaliza o presidente Klaus Curt Müller.

O que dizem os importadores?

Ricardo Alipio da Costa, que preside a Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Pneus (ABIDIP) rebate as acusações em relação à isenção dos impostos e defende a manutenção da medida.

“Não houve isenção, mas sim redução de alíquota para 0% do imposto de importação para 5 medidas de pneus de caminhão. Os demais pneus permanecem com a alíquota normal de 16%. No começo da pandemia ocorreu um aumento abusivo e arbitrário do frete marítimo,  que saltou de US$ 350,00 no mês de julho de 2020 para US$ 7.500,00 por contêiner, chegando a custar até US$ 10 mil cada unidade. O fato impactou internamente no custo do transporte rodoviário, modal do qual o Brasil é dependente há décadas. A redução para 0% da alíquota do imposto de importação de 5 medidas de pneus de caminhão não representou ganho para os importadores. Mas, sim, a neutralização do impacto da alta do frete marítimo internacional sobre o consumidor final, o transportador rodoviário, lembrando que a indústria nacional, desde sempre, também importa pneus de caminhão (via Mercosul) à aliquota de 0% do imposto de importação”.

“O BRASIL AINDA OSTENTA A MARCA DE UM DOS PAÍSES MAIS FECHADOS PARA A ECONOMIA MUNDIAL COM UMA INFINIDADE DE MEDIDAS ANTIDUMPING CONTRA OS PRODUTOS IMPORTADOS, IMPONDO AO CONSUMIDOR FINAL ESSE ÔNUS ADICIONAL E, NO CASO DOS PNEUS, O MAIS CARO DO MUNDO.”

Em complemento, Alípio da Costa explica que a entidade defende a democratização do mercado de pneus, com o propósito de assegurar a livre iniciativa e a livre concorrência. “O argumento está baseado na velha máxima de que quanto maior a oferta, menor é o preço e maior a qualidade dos produtos oferecidos ao consumidor”, completa o presidente.

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