Inflação alcança 0,96% em julho, maior resultado para o mês desde 2002

Com impacto da energia elétrica, IPCA chegou a 8,99% no acumulado de 12 meses

Folha de São Paulo – 10.ago.2021 às 9h06 – Atualizado: 10.ago.2021 às 10h55 – Leonardo Vieceli

A inflação oficial do país, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), voltou a acelerar e registrou variação de 0,96% em julho. Puxado pela energia elétrica mais cara, o resultado é o maior para o mês desde 2002, quando o índice foi de 1,19%.

A variação de 0,96% ocorreu após avanço de 0,53% em junho, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta terça-feira (10).

O resultado de julho veio próximo das expectativas do mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 0,95%.

Com o resultado, o IPCA chegou a 8,99% no acumulado de 12 meses. Isso significa que o indicador ampliou a distância em relação ao teto da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central) neste ano. No acumulado até junho, a variação estava em 8,35%.

O teto da meta de inflação em 2021 é de 5,25%. O centro é de 3,75%.

Dos nove grupos de produtos e serviços do IPCA, oito tiveram alta em julho. A maior variação (3,1%) e o maior impacto (0,48 ponto percentual) vieram de habitação.

O resultado desse grupo foi influenciado pela energia elétrica, que acelerou para 7,88% no mês passado. Segundo o IBGE, o item respondeu pelo principal impacto individual (0,35 p.p.) no IPCA do período.

O instituto destacou que, em julho, o país teve reajuste no valor adicional da bandeira vermelha patamar 2, o que pressionou as contas de luz. Além disso, houve avanços tarifários de 11,38% em São Paulo, de 8,97% em Curitiba e de 9,08% em uma das concessionárias de Porto Alegre.

“Além dos reajustes nos preços das tarifas em algumas áreas de abrangência do índice, a gente teve o reajuste de 52% no valor adicional da bandeira tarifária vermelha patamar 2 em todo o país. Antes o acréscimo nessa bandeira era de, aproximadamente, R$ 6,24 a cada 100kWh consumidos e, a partir de julho, esse acréscimo passou a ser de cerca de R$ 9,49”, explicou André Filipe Guedes Almeida, analista da pesquisa do IBGE.

A segunda maior contribuição (0,32 p.p.) entre os grupos veio de transportes (1,52%). Dentro do segmento, o destaque foi para as passagens aéreas, cujos preços subiram 35,22%, após queda 5,57% em junho. As passagens de avião, aliás, responderam pelo segundo maior impacto individual (0,10 p.p.) no IPCA de julho.

Já a gasolina subiu 1,55%, após avanço de 0,69% em junho. Assim, teve o terceiro maior impacto individual (0,09 p.p.) no IPCA do mês passado. ​

Almeida relatou que diversos fatores podem explicar o comportamento recente da inflação. Um deles é o aumento nos custos de operação das empresas, que podem ser repassados para os consumidores.

Segundo o analista, mesmo que a inflação tenha subido em oito dos nove grupos em julho, é preciso aguardar para saber se o avanço dos preços terá caráter generalizado nos próximos meses.

A escalada do IPCA ganhou corpo ao longo da pandemia. Em um primeiro momento, houve disparada de preços de alimentos e, em seguida, avanço de combustíveis. Alta do dólar, estoques menores e avanço das commodities ajudam a explicar o comportamento dos preços.

Não bastasse essa combinação, a crise hídrica também passou a ameaçar o controle da inflação. É que a escassez de chuvas eleva os custos de geração de energia elétrica. O reflexo é a luz mais cara nos lares dos brasileiros.

Além de pesar no orçamento das famílias, a alta nas tarifas também eleva os custos de operação das empresas. A situação ocorre no momento em que o consumo de bens e serviços é desafiado pelo aumento do desemprego no Brasil.

Em uma tentativa de frear a inflação, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) voltou a subir a taxa básica de juros (Selic) no último dia 4. Na ocasião, confirmou alta de 1 ponto percentual na Selic, para 5,25% ao ano. Foi a maior elevação em 18 anos.

O risco de desajuste nas contas públicas pesou na decisão do Copom de aumentar a Selic, indicou a ata da reunião, publicada nesta terça-feira. A manifestação ocorre em meio a incertezas fiscais relacionadas ao custeio do novo programa social do governo federal, o Auxílio Brasil, e ao pagamento de precatórios (dívidas do governo na Justiça). O desequilíbrio nas finanças públicas pode pressionar a inflação.

“O Comitê ponderou que os riscos fiscais continuam implicando um viés de alta nas projeções. Essa assimetria no balanço de riscos afeta o grau apropriado de estímulo monetário, justificando assim uma trajetória para a política monetária mais contracionista do que a utilizada no cenário básico”, diz a ata do colegiado.

Seca na Bacia do Paraná

Devido ao comportamento da inflação, analistas do mercado financeiro ouvidos pelo BC vêm subindo suas projeções para o IPCA. A estimativa mais recente que aparece no boletim Focus indica avanço de 6,88% ao final de 2021. Ou seja, acima do teto da meta. A edição mais recente do Focus foi publicada pelo BC na segunda-feira (9).

De acordo com estudo divulgado pelo Itaú Unibanco na semana passada, a inflação no mundo foi puxada, até junho, por commodities e gargalos de produção, que provocam escassez de insumos especialmente na indústria automobilística.

O Itaú sinaliza que, até o momento, a pressão nos preços causada pela reabertura da economia é sentida com maior força apenas em países que saíram na frente no processo de vacinação contra a Covid-19. O destaque, nesse caso, fica com os Estados Unidos.

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