FABRICANTES DE PNEUS ESTÃO FUGINDO À RESPONSABILIDADE

CERTAS MEDIDAS DE PNEUS NÃO EXISTEM MAIS, APESAR DA FROTA QUE AS UTILIZA SER NUMEROSA

Surpreso, perguntei à VW para saber o porquê da mudança. Foi-me explicado que quando começaram o planejamento para a volta da produção do Fusca, o pneu era para ser o 155/80R15, mas como essa medida não existia mais e fizessem (acertadamente) questão de adotar pneus radiais (que o Fusca nunca teve no Brasil, só diagonais), a solução foi usar o 165/80R15.

O resultado foi carro ter piorado o comportamento em curva, os freios terem perdido parte da potência e a velocidade por 1.000 rpm (v/1000) em todas as marchas ter aumentado. Tudo resultado do raio dinâmico 2,6% maior.

Vale lembrar que o último Fusca produzido, motor 1600 com dois carburadores, havia recebido diferencial mais longo (de 4,125:1 para 3,875:1, o mesmo do SP2) no ano-modelo 1984 para atender à determinação do Ministério da Indústria e Comércio dentro do Programa de Economia de Combustível (Peco). O objetivo do programa foi reduzir o consumo de combustível do país em 5%. A mudança da relação de diferencial prejudicou aceleração e velocidade máxima.

Anos depois procurei pneus para o Celta 2002 da minha filha e não achei a medida original 145/80R13. Nenhuma fabricante a produzia mais. Foi preciso passar para 165/70R13, o raio dinâmico foi mantido, mas a seção transversal e banda de rodagem maiores deixou a direção mais pesada e a roda 4J x 13 ficou estreita para o pneu mais largo, o certo seria tala 4,5J x 13. Essa medida do Celta é a mesma do Corsa, Uno e Ka, volume de carros que representa pelo menos 5 milhões.

Desde então noto o “sumiço” de medidas. Até a popular165/70R13 já está sepultada, deixando Gol. Voyage, Parati e Saveiro sem alternativa correta. Ainda ontem o leitor Lucas Vieira disse num comentário que não encontrou o 185/70R13 para uma Belina, só o 175/70R13, e por elevado preço, 380 reais.

Hoje o dono de Fusca “Itamar” não encontra mais a medida original 165/80R15, restando como única alternativa o diagonal Firestone F-560.

O mais intrigante nessa eliminação de medidas é que depois de 2013, quando foram produzidos 3,8 milhões de veículos — recorde histórico — a produção da indústria automobilística vem caindo e hoje está em 2,12 milhões (2021). É lícito supor que a mesma ociosidade acompanhe a indústria de pneus.

É inconcebível os cerca de 2 milhões proprietários de Fuscas ainda em circulação não poderem se beneficiar de um pneu radial de medida correta, essencial para o bom e seguro comportamento do veículo com as características do VW. Já conversei com Pirelli, Goodyear e Dunlop para relançarem a medida 155/80R15 para atender esse mercado, em vão.

A Pirelli, que inaugurou a era do pneu radial no Brasil em 1960, fornecendo-o como equipamento original para o FNM 2000 JK, tem na Europa a linha Collezione, pneus radiais das mesmas medidas e desenho de carros mais antigos. Esses pneus são importados pela Pirelli brasileira da fábrica da Turquia — a mais moderna do grupo e onde são fabricados os pneus de competição, F-1 inclusive — e distribuídos pela Batistinha Garage, de São Paulo.

O problema é preço: o pneu de medida para o Fusca, na última vez que verifiquei, estava por 1.100 reais cada, isso quando o dólar ainda não havia batido na casa dos 4 reais.

Um leitor dono de Fusca soube dessas pneus Pirelli importados para Fusca (155/80R15H), comprou um jogo para seu imaculado Fusca 1300 1973 e escreveu uma matéria para o AE, na qual descreve o excelente comportamento do carro com os pneus radiais certos. Nas várias e excelentes fotos que ele fez pode-se ver claramente a perfeita combinação roda-pneu, como mostra a foto de abertura.

O mais intrigante nessa questão toda é a indústria de pneus não atender uma parte considerável do mercado, fugindo à sua responsabilidade, e deixar de ganhar dinheiro com isso. Como pode?

A indústria inteligente se serve do mercado e atende o mercado.

BS

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