Efeito da queda do dólar na inflação é anulado por alta de petróleo e alimentos

Economistas também calculam que preço da gasolina no Brasil continua defasado

Eduardo Cucolo SÃO PAULO

alta do preço de commodities nos mercados internacionais está anulando os benefícios que a valorização do real poderia trazer para a queda da inflação e do preço de alimentos e combustíveis neste ano.

No geral, a balança ainda pesa a favor da inflação. Ou seja, o aumento no preço desses produtos no exterior supera a melhora no câmbio no Brasil neste ano.

Além disso, prevalece a avaliação de que a tendência para o real até o final do ano é de desvalorização, enquanto os preços das commodities tendem a continuar em patamar elevado. Por isso, as projeções de inflação para 2022 continuam se deteriorando.

dólar comercial fechou nesta quarta-feira (23) vendido a R$ 5,003. É a menor cotação da moeda americana desde 30 de junho de 2021.

O real é a moeda que mais se valorizou neste ano entre as maiores economias, mas ainda é uma das que mais se depreciou desde 2020.

No caso do petróleo, os dados mostram um empate nas variações em fevereiro, mas um efeito inflacionário desde o início do ano.

Por isso, o preço da gasolina nas refinarias brasileiras continua com uma defasagem em torno de 10% em relação ao valor na Bolsa de Valores dos EUA, de acordo com cálculo do Banco Original.

Ou seja, com base apenas no critério de preço, a Petrobras não teria motivo para reduzir o valor do combustível neste momento, mesmo com a valorização do real.

A Petrobras adota uma política de paridade de preços para os derivados do petróleo no mercado interno em relação aos valores internacionais, que considera também fatores como o câmbio.

Daniel Xavier, coordenador do Departamento Econômico do Banco ABC Brasil, calcula que em 2022 o resultado líquido de alta de commodities e queda do dólar ainda é inflacionário.

A apreciação cambial de 8,1% observada até agora tende a retirar cerca de 0,9 ponto porcentual do IPCA (índice oficial de inflação do país) em quatro trimestres. A valorização de 24% do petróleo Brent tem impacto inflacionário de 1,6 ponto no mesmo período. O aumento de 10% no preço das commodities agrícolas em dólares acrescenta 0,2 ponto ao índice de inflação. A alta de 0,4% das commodities metálicas tem efeito praticamente zero.

A somatória desses impactos estimados até agora sobre o IPCA é de 0,9 ponto para cima no horizonte de quatro trimestres, segundo o economista, que projeta inflação de 5,7% neste ano.

Segundo ele, nas últimas semanas o dólar perdeu força frente ao real, o que de certa forma “compensou” a pressão que vem do barril de petróleo no momento. Mas o cenário pode mudar.

“O consenso do Focus para o IPCA 2022, hoje em 5,56%, tende a ser revisado para cima. Em função, principalmente, da perspectiva mais desfavorável para a cotação do petróleo, que é a commodity com maior impacto marginal sobre a inflação doméstica e segue marcada por incertezas geopolíticas neste início de ano.”

O economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso, afirma que, desde a última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, no começo do mês, tanto o real quanto o barril de petróleo tiveram valorização em torno de 8%.

Na época, o BC adotou um câmbio de R$ 5,45 (média das semanas anteriores), e o barril estava no patamar de US$ 89. Agora, os valores são de cerca de R$ 5,00 e US$ 97, respectivamente.

Se uma variação de 10% para cima no dólar coloca cerca de 1 ponto no IPCA, como estimado pelo Banco Central, uma queda na mesma magnitude tira apenas 0,30 ponto da inflação, afirma o economista.

Caruso calcula uma redução efetiva do índice de preços de apenas 0,25 ponto percentual para uma apreciação de 8% na moeda brasileira. Sua projeção de IPCA de 5,8% para este ano, no entanto, considera um câmbio de R$ 5,85 no final de dezembro.

“É mais fácil subir preços em uma desvalorização cambial do que reduzir em uma eventual valorização”, afirma Caruso. “Se eu fosse o BC, não daria um grande peso ao câmbio para eventualmente sinalizar uma pausa mais cedo na alta da Selic.”

​Rodrigo Leão, coordenador técnico do Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), afirma que dólar e petróleo tiveram variações praticamente da mesma magnitude desde o último reajuste da Petrobras.

Segundo Leão, enquanto o mercado projeta alta do dólar ainda neste ano, as expectativas para o petróleo são de manutenção do preço em patamar elevado.

“A gente está com um cenário externo bastante instável por causa de Rússia e Ucrânia. Na melhor das hipóteses, vamos ter um preço [do barril] no patamar que está agora. Não acredito que vá ficar mais baixo.”

Isso não significa que os combustíveis irão necessariamente subir neste ano. Ele afirma que questões políticas relacionadas à eleição no Brasil podem contribuir para uma alta do dólar, mas também colocariam pressão sobre a Petrobras para não fazer novos reajustes.

Questionado há cerca de dez dias sobre novos ajustes nos preços dos combustíveis, diante da tensão entre russos e ucranianos, o presidente da Petrobras, general da reserva Joaquim Silva e Luna, afirmou estar “acompanhando o que está acontecendo”.

A estatal fez seu último reajuste em 11 de janeiro, de 8% nos preços do diesel nas refinarias, enquanto a gasolina vendida às distribuidoras teve alta média de 4,85%.

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