Brasil assume liderança mundial em receitas com exportação de grãos

Produtos como soja, milho e algodão aceleraram a produção e a exportação; os voltados para o mercado interno, como feijão, perderam espaço

Folha de São Paulo –
Como está posicionada a agropecuária do Brasil no mercado internacional? Na maioria dos setores, muito bem, mas, em alguns, ainda é necessário o surgimento de uma “JBS ou de uma BRF” para dar novo fôlego a eles.

A avaliação é do pesquisador da Embrapa Elisio Contini, que, junto com Adalberto Aragão, analista da empresa, coletou informações comparativas dos principais concorrentes do Brasil nas questões de produção, de rendimento e de exportação nas duas últimas décadas.

O resultado indica que as exportações são o motor do avanço da produção brasileira. Produtos como soja, milho e algodão, com forte demanda externa, aceleraram a produção e a exportação. Já os voltados para o mercado interno, como feijão, perderam espaço.

Se considerado apenas o ano de 2020, porém, a participação brasileira já está em 22,2%, colocando o país como o líder mundial em arrecadação de divisas com exportações de grãos. Os Estados Unidos vêm em segundo posto, com 21,5%. Esse cálculo inclui arroz, cevada, milho, soja e trigo.

Os dados apontam que alguns produtos vão muito bem. A soja brasileira abocanhou 51% de todas as receitas do comércio mundial desse produto no ano passado.

Outros ainda têm muito espaço para crescer, como é o caso do milho. O país tem 18% da produção mundial e, após deixar de ser um produto voltado para o mercado interno, poderá atingir de 150 milhões a 200 milhões de toneladas.

Em alguns produtos, como café e açúcar, o Brasil mantém uma liderança que dura muitos anos. Em outros, como no algodão, a presença vem avançando rapidamente.

A receita brasileira com a fibra, que tem média de 7,1% de 2000 a 2020 no mercado mundial, atingiu 14,3% em 2020.

No setor de carnes, os ganhos vêm ocorrendo há vários anos. Por isso, a participação no mercado mundial não tem grandes mudanças entre a média das duas últimas décadas e a de 2020.

O Brasil produz 9,2% das carnes bovina, suína e de frango do mundo. As exportações, em volume, atingem 13,4%.

Para Contini, os números da agropecuária são bons, mas isso não deve despertar um otimismo exagerado. “É preciso ser racional e fazer boa gestão das propriedades.”

Já o Ministério das Relações Exteriores precisa ser mais ativo na promoção do setor, principalmente dos produtos que têm viabilidade de mercado.

Contini inclui nessa lista frutas, pescados, arroz e trigo. O aumento de exportações vai elevar o patamar de produção interna.

Ele cita o exemplo do arroz, atualmente perdendo lugar para a soja no Rio Grande do Sul. A demanda na Ásia será cada vez mais crescente, e esse é um produto que poderá crescer na pauta de exportação brasileira.

Os setores de fruta e de pescado também têm um bom campo externo, mas é necessária uma profissionalização internacional. Para Contini, faltam empresas ao molde de JBS e de BRF nessas atividades.

O pesquisador diz, no entanto, que é preciso ficar atento a algumas mudanças no setor. O dólar, apesar de elevar as receitas dos produtores, está desvirtuado. No patamar atual, ele inibe avanços tecnológicos no setor, principalmente na aplicação de tecnologias e de máquinas importadas.

O país não pode permanecer, ainda, apenas na dependência de exportações de matéria-prima. É necessário o desenvolvimento de um parque industrial, inclusive com indústrias voltadas para o setor do agronegócio. Haveria um aumento das receitas com a venda externa de produtos com maior valor agregado.

São necessários vários acertos no setor, uma vez que a lógica da agropecuária brasileira será sempre a do mercado internacional, afirma Contini.

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